Eu devia ter suspeitado quando li o elogio no
Público... Basicamente, o novo disco dos R.E.M. está para a sua música como os filmes «negros» da fase londrina de Woody Allen estão para o seu cinema: apreciados por quem não gosta do que eles fazem melhor. Allen é um autor como há poucos, mesmo muito poucos, e quem perpetra crítica de cinema hoje geralmente nem tem idade para ter acompanhado uma Obra monumental (isso mesmo também se viu nas críticas surgidas na imprensa de referência ao seu livro mais recente). E algo semelhante sucede com os R.E.M.
Para quem começou a ouvir R.E.M. com o sucesso radiofónico de «Losing My Religion» (óptima canção, e bem dentro do estilo «clássico» do grupo), em 1991 ou 1992, nada daquilo lhe era familiar. Não por acaso, a canção fazia parte de um album intitulado Out of Time. Por isso é apenas lógico que o novo Accelerate soe bem a ouvidos criados a golpes de Nirvana e afins: demasiado rápido e demasiado gritado, curto e monótono, enérgico e feito para ser tocado ao vivo. Mas sem ocupar demasiado tempo, há muitas outras músicas para tocar... E o ponto é esse: song per song, os R. E.M. têm o CV mais impressionante do rock americano. Espalhadas por quase 30 anos, por dezenas de gravações e por dois alinhamentos (com e sem o baterista), definiram um som fundamental para reviver o rock americano nos anos '80 (no final dessa década eram macaqueados a torto e a direito por bandas independentes) e, nos anos '90, refizeram-no livremente apesar do contrato monstro com uma grande editora. O sucesso público de Out of Time, a perfeição de New Adventures in Hi-Fi (quando o «Lo-Fi» era moda, fizeram o seu melhor disco... como os Sonic Youth e os U2, duas outras bandas dos anos '80 que culminaram nos '90's), a reinvenção espantosa do line-up original em Up, enfim, o conjunto do que fizeram até hoje é um sucesso quase incomparável, apesar de flops ocasionais (Green nos 80's, Monster nos 90's e Reveal já nesta década). E para dar conta desse sucesso teria de fazer uma lista, com mais de 30 títulos, de canções mais-que-perfeitas, coisa que agora não me apetece.
Isto porque, infelizmente, o novo disco pouco contribui para essa longa história. Começa, verdadeiramente, só na terceira canção. E nunca passa muito do registo mono-tom referido acima. A comparação fácil é com
Life's Rich Pageant (80's) e
Monster (90's). Infelizmente, tem muito mais do segundo do que do primeiro. Ou seja: esprimido, não é um album (como
Life's...), mas um «maxi» ou, vá lá, um EP.
Vale a pena? Sim. É um grande passo em frente em relação ao último disco? Não, esse era apenas demasiado longo (este é bastante curto apesar das duas primeiras faixas escusadas, sobretudo a segunda). Isto, claro, não é grave. Quebrar o silêncio de quatro anos só com isto é que é pior. Para uma perspectiva, há esta devidamente autorizada (restrita, ou quase, aos anos na Warner, no
site oficial).
Para um grande comeback, contudo, temos o novo dos American Music Club...
Etiquetas: Accelerate, R.E.M., rock americano
4 Comments:
Pela comparação com "Monster" e por considerá-lo "demasiado rápido e demasiado gritado, curto e monótono, enérgico e feito para ser tocado ao vivo" deduzo que tenha mais decíbeis do que a média dos álbuns dos REM; e já que se falou nos Nirvana, "Monster" era assim como uma espécie de tributo próximo a Kurt Kobain.
Também acho que New Adventures é um álbum fabuloso, ainda que pouco divulgado, mas acho o mesmo de Reveal; Around the Sun seria o real "flop ocasional" desta década
Experimente ouvir só as primeiras 9 ou 10 canções de Around the sun, sem as restantes. Há no Reveal coisa igual? Mas fora isso, sim, este Accelerate tem mais décibeis que a média.
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Ainda não ouvi este Accelerate, por isso estou ainda mais curiosa. Comecei a ouvir REM lá por 1990, via irmão-mais-velho, numa cassete que, se não me falha a memória, tinha o Green e o Life's Rich Pageant; era o tempo do Out of Time, claro. Até hoje, acho que só não ouvi integralmente o segundo(?), o Reckoning .
O momento menos feliz foi para mim o do Reveal. Continuo a esperar deles, sempre, que acrescentem qualquer coisa ao cancioneiro americano. Pouco me têm decepcionado, devo dizer.
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