A despersonalização da vida contemporânea: os mercados e os Estados
Paralelamente (ou não...) a política estadual têm-se tornado ainda mais processual e administrativa, preocupada em distribuir o máximo de serviços públicos a um custo mínimo, ao mesmo tempo que passa ao lado das questões morais essenciais sobre o género de mundo que queremos construir colectivamente. John Rawls chama a este credo do liberalismo contemporâneo “a prioridade do certo sobre o bom”. Muitos já nem sequer acreditam no consenso sobre o bem comum em sociedades que se tornaram pluralistas e multiculturais, defendendo, por vezes, que os Estados não têm o direito de tomar decisões colectivas sobre o “bem”, que devem ser deixadas à escolha e consciências individuais. Seja como for, parece existir cada vez mais, tanto dos mercados como dos Estados, uma marginalização das considerações éticas dos seus procedimentos de decisão.
O mesmo se podia aplicar às grandes multinacionais cuja raison d´être e lógica de decisão é tão só dar lucro aos seus accionistas. Responsabilidades mais amplas não são essenciais ao seu objectivo, embora concerteza muitas tenham sido obrigadas a cumpri-las pela pressão pública e tenham incorporado outras responsabilidades nas suas políticas ou declarações programáticas.
De qualquer maneira, a grande mobilidade do capital e da produção resulta na medida em que sejam frequentemente capazes de escapar ao domínio dos Estados, por um simples gesto de transferência da produção para outro sítio ou de subcontratação a firmas locais ou até mesmo através da deslocação da sua base financeira.
No passado havia uma ligação directa entre os possuidores da riqueza e os seus produtores. Hoje em dia, as elites globais têm muito pouca ou mesmo nenhuma ligação com as pessoas afectadas pelas suas decisões. Não vivem no mesmo país dos que produzem os seus bens e têm provavelmente pouco, senão nenhum contacto com aqueles que os compram, em particular quando uma aquisição é feita através da internet.
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