sexta-feira, março 21, 2008

Haverá sangue

A última longa-metragem de Paul Thomas Anderson, There will be blood, é um filme épico sobre a exploração do petróleo nos Estados Unidos no início do século XX. O termo épico é adequado pois Paul Thomas Anderson pretende, como Homero, contar e cantar uma saga. A narrativa alia-se à poesia visual e sonora. Mas, ao contrário dos heróis da épica clássica, Daniel Plainview, a personagem central da história, não aspira à glória, à conquista de uma mulher ou ao regresso a casa, mas à solidão que a acumulação de ouro negro permite. As qualidades heróicas – sagacidade, tenacidade, bravura – conduzem-no a um destino que, antecipadamente sabemos só pode ser violento. Por isso, no filme o sabor épico mistura-se com o amargo sabor das personagens condenadas ao fracasso de Herman Melville ou de Kafka.
O filme pode surpreender, num primeiro momento, quem viu outros filmes de Paul Thomas Anderson, como a comédia romântica Punch-Drunk Love (2002) e o mosaico dramático Magnolia (1999). Numa segunda análise podemos detectar nos três filmes o tema familiar como motor da narrativa. Haverá sangue é a história de duas famílias em desagregação: a de Daniel Plainview, que nunca casa e acabará por rejeitar o filho adoptivo, e a da família Sunday, proprietária do terreno que Plainview compra para extrair petróleo. A esta família pertence Eli Sunday, filho do proprietário do terreno e pastor que funda a Igreja da Terceira Revelação. O confronto entre Daniel e Eli é um duelo entre a lucidez obsessiva e a obsessão da má-fé, do qual só poderá resultar a morte e a destruição. O eventual final feliz ficará para as personagens secundárias: H.W., o miúdo adoptado, usado e por fim, já homem, repudiado por Plainview, e a mulher de H.W., Mary Sunday.

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