domingo, dezembro 16, 2007

Almanaque do Povo


A moda do pisca-pisca: nas varandas, marquises e laranjeiras dos quintais do meu bairro também há, como no da Isabela, "lombrigas" de luz festiva em formas absolutamente aleatórias, capazes de provocar um ataque epilético a qualquer cidadão que não goste de usar calças com cornucópias.

Gostava era de perceber como é que ele só demorou quinze minutos da Portela a Belém: sim, há países nos quais quem governa também bloga sem grandes pompas nem grandes receios; veja-se o caso do mais velho dos manos Miliband, David, valor seguro do New Labour. Confrangedor, aquele vôo a solo na cerimónia lisboeta; o mais provável é que venha a ficar para a História como o primeiro-ministro que antes de ser primeiro-ministro já assinava ao lado dos outros primeiros-ministros.

Prémio Pessoa: Como o João já aqui havia referido, a historiadora Irene Pimentel foi este ano galardoada com o Prémio Pessoa, e considerada pelo seu júri "uma das figuras mais notáveis da actual historiografia portuguesa", sublinhando o dito ter contado para a tomada de tal decisão a sua "adesão aos valores da liberdade e direitos humanos" e a abordagem a temas "difíceis e polémicos". Antes do que se segue, devo dizer que conheço boa parte da obra da autora e a tenho em bastante consideração. Quanto ao prémio em si, fiquei feliz por ver pela bloga a quebra de um certo silêncio (ou da simples parabenização) típico dos meios profissionais pequenos, em que a maior parte das pessoas evita comentários públicos para não ser mal interpretada, ou simplesmente por temer a impopularidade da sua opinião. Refiro-me, por um lado, ao contributo de Fernando Martins, na expressão das razões para a surpresa acerca desta escolha, e por outro o de Daniel Melo e Cláudia Castelo, que detalharam o trabalho desenvolvido por Irene Pimentel, reforçando a atribuição do galardão. A verdade é que estamos habituados a que, em Portugal, os prémios de grande visibilidade como este sejam outorgados no culminar de uma carreira, ou mesmo depois do seu fim. Ora, o perfil do Prémio Pessoa não se enquadra nessa matriz, como a própria galeria de laureados testemunha: nenhuma das individualidades constantes laureadas o é exclusivamente pela sua excelência profissional; todas são destacadas por combinarem determinada contribuição na área das artes, letras e ciências com uma continuada intervenção cívica e política (ou com o potencial de projecção internacional que conferem ao país). O prémio destina-se a elevar o seu perfil público internamente, a qualificar a individualidade como fazedora de opinião. Parece-me um propósito absolutamente legítimo. Mas pouco claramente enunciado.

[imagem: BND da Holanda]

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11 Comments:

Blogger CLeone disse...

É claro que o Prémio pode ser atribuído a IP, mas a lista no Cachimbo... (memso não concordando com todos os nomes,seria fácil encontrar mais meia dúzia) tem toda a razão de ser. Aliás dizer-se que a PIDE é tema polémico quando ninguém a defende (nem o Nogueira Pinto!) é curioso... O prémio parece ficar a dever-se a algo muito comum em Portugal, a pertença de membros dos juris académicos em juris de prémios (vários prémios, ICS, pessoa, etc). Esta promiscuidade é evidente e só não retira mérito à premiada (e outros premiados) por a sua obra a defender disso. Mas em Portugal o falar-se muito de umas coisas sem se dizer o óbvio é só um meio para não se falar de outras para não ter de se dizer o necessário. Até já vi quem falasse em censura, apenas para melhor a praticar.

11:06 da manhã  
Blogger CLeone disse...

E quanto ao perfil do prémio pessoa, apesar do esforço para lhe encontrar coerência, ele pura e simplesmente não existe, como a lista de vencedores bem ilustra. Daí a necessidade de escrever coisas tão desmesuradas como "uma das figuras mais notáveis da actual historiografia portuguesa", enormidade que até a homenageada deve sentir como constrangedora.

11:45 da manhã  
Blogger Cláudia [ACV] disse...

Carlos, também a mim aquela lista do Fernando deu que pensar, obviamente sem qualquer demérito para a Irene Pimentel.

É verdade: como não vou poder estar presente, felicito-o desde já pelas obras a lançar mais logo ao fim do dia :)

5:54 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Cotovelos doridos?

9:40 da tarde  
Blogger Cláudia [ACV] disse...

Mas o sr. hirudoid não é para hematomas? Sempre julguei que as dores articulares se tratavam com anti-inflamatórios. Seja qual seja a bula, por aqui a malta tem a noção da sua desimportância. Mas é sempre tónico ter um anónimo à espreita. Feliz Natal.

9:49 da tarde  
Blogger Fernando Martins disse...

Os nomes que deixei no "cachimbo" dizem respeito, apenas, aos historiadores do século XIX e XX português que não são mediáticos mas que, a meu ver, fizeram mais pela historiografia portuguesa nos cinco últimos dez, quinze ou vinte anos do que a Irene Pimentel. A lista não é exaustiva - desde logo porque não podia ser - e por não incluir alguns outros nomes mais óbvios e mediáticos. Por outro lado, também não inclui todos os não mediáticos - embora não me lembre de muitos mais.
Quanto ao hirudoid, e apesar de tender a ignorar gente que se esconde, devo dizer que me parece uma imbecilidade andar por aí escrever que quem não concorda com a atribuição de um prémio, e ainda por cima o explica minimamente, não tem necessariamente que ter dor de cotovelo. Está apenas a dar livremente a sua opinião! Ou será que o hirudoid tem complexo de PIDE/DGS?

11:03 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Problemas de digestão?

8:41 da manhã  
Blogger CLeone disse...

Pois, deixando de parte a questão de concordar ou não com a atribuição (eu concordo, o hiudoid/kompenan tem de ir ao oftalmologista), a questão é simples: por um lado a falta de critéios daquele prémio em geral; depois, o não se fazer uma apreciação da historiografia portuguesa desde há muito tempo (mesmo a História da História em Portugal contornou isso). Talvez nãos e faça desde o Oliveira Marques, num ensaio anterior ao 25 de Abril.
Pena não ter(em) estado lá ontem, correu bem.

9:51 da manhã  
Blogger Diogo disse...

Gostava era de perceber como é que ele só demorou quinze minutos da Portela a Belém.

Bom Natal

1:54 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Chego atrasado a esta troca de comentários e já deixei o meu no post do Fernando Martins, seguindo o link da ACV. Ficou lá para o fundo de «O Cachimbo de Magritte»...Mesmo prémios com categorias definidas, como o Nobel da literatura, dão polémicas e há sempre uma data de escritores que o podiam ter ganho, quanto mais este que distingue «uma personalidade da ciência ou da cultura» e ainda por cima que, tendo já uma obra importante, ainda não seja devidamente consagrada...
O prémio Adérito Sedas Nunes é que podia provocar polémica, pois tem critérios muito bem definidos: obras de investigação em ciências sociais e humanas publicadas no ano transacto. Será que não é tão polémico porque os académicos discutem mais facilmente prémios mediáticos do que prémios académicos e os não académicos não se metem com a academia?

12:01 da manhã  
Blogger CLeone disse...

Não percebo: qual a polémica relativamente ao prémio Sedas Nunes para Irene Pimentel? O ano transacto (2007 já conta como tal?) não foi de actividade? Se os não académicos discutem mais facilmente o que não lhes diz respeito do que o que diz depende das academias (no caso da portuguesa nem sei); já os não académicos não se meterem...a questão é saber como se metem.
Mas parece-me que não apanhei o sentido do comentário do João.

5:44 da tarde  

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