Não fui aluna da Secundária Padre Alberto Neto, mas digamos que andei na mesma escola que
Pedro Lomba. Explico: não fui colega do Dani, do Melão ou da Ana Sofia Vinhas, muito menos da Teresa Salgueiro ou do Nuno Santos
[fico por aqui, que o et caetera relativo ao ex-Liceu Nacional de Queluz seria longo], e contudo a minha experiência é muito semelhante à descrita na crónica do DN; acho que não erro em dizer,
RAF, que o
insight sociológico do PL reflecte a experiência de milhares de outros da geração de setenta. Caracterizar essa experiência é perder-se numa apologia? A mim parece-me que é tentar perspectivar o sistema que permitiu essa mobilidade social que (consensualmente) se constata.
Mas se não chega aduzirmos à questão educativa o nosso testemunho, também não chegará lutarmos por uma ou outra convicção ideológica sem o conhecimento do que ensino em Portugal até agora foi. Porquê? Porque esse mesmo caminho determinou a sucessão das tão (também consensualmente) criticadas reformas pedagógicas das últimas décadas. A boa notícia é que muito já se escreveu e conhece em termos históricos e sociológicos acerca do último século e meio de ensino; agora era integrar essa informação no debate mediático. Facto é que o mínimo denominador comum de conhecimentos que o Estado português tem ministrado aos seus cidadãos importou muito para o processo de consolidação de si próprio. Quanto à transmissão desses conteúdos, público e privado coexistem (há muito), e assim deve ser num país democrático; já a definição e supervisão daqueles, se quisermos continuar a usufruir da coesão social característica de um estado-nação (liberal ou socialista), implica a existência de um órgão superior, politicamente responsabilizável. Em termos estruturais, continuamos a preocupar-nos mais com a reinvenção da roda do que com o seu regular movimento.
Etiquetas: Ensino; Educação
5 Comments:
Se eu resolvesse fazer um livro sobre: "Fernando Vale na obra de Miguel Torga"
Quem era o autor do livro? Era Miguel Torga?
Eu gostava de ter andado na escola pública.
Eu frequentei escolas privadas e públicas. Guardo de todas excelentes memórias. Nada me move contra o PL, antes pelo contrário, mas a sua crónica na minha opinião acerta ao lado, faz uma apologia da escola pública como "factor de mobilidade social". Eu não sou a favor nem da escola pública nem da privada, mas da melhor escola disponível, e da possibilidade de fomentar a escolha e a concorrência, e a descentralização da responsabilidade pela educação para uma escala menor ao Ministério da Educação. Sou também contra a forma como se canoniza a escola pública, como se fosse uma entidade intocável, como se os seus defeitos fossem meros acidentes de percurso, e isso respira do texto do PL.
Compreendi, Rodrigo.
Como referi, simplesmente discordo da interpretação que faz da crónica do PL, já que onde lê apologia, eu leio a explicitação/reflexão a partir de um percurso individual. Quanto a factos: parece-me que se pode dizer sem favor, sem intenção canónica, antes com razoabilidade, que, nos últimos trinta a quarenta anos, a escola pública tem sido um factor de mobilidade social fulcral, sem paralelo com outras iniciativas estatais ou privadas. Sendo nada despiciendo que este tipo de ensino é o único ao alcance de qualquer cidadão, ele merecerá por parte do Estado particular investimento e cuidados, e não simplesmente supervisão, como no caso do ensino privado. Acho que a escola pública apresenta um conjunto muito mais complexo de desafios que a privada (pela razão básica: o futuro dos nossos filhos/sobrinhos/primos joga-se à escala de uma geração inteira, não à escala individual), e nesse sentido implica por parte de quem governa especial intervenção, ou especial favor, se assim lhe quiser chamar. Nada disto implica uma visão acrítica daquilo que deve ser o ensino público - isto digo-lhe como alguém que já esteve dos dois lados da carteira do ensino público como cobaia do eduquês - aí estamos em completo acordo.
Eu andei na escola pública da 2.ª à 4.ª classe. Também não gostei, mas, como só tinha aulas de manhã, aproveitava bem as tardes. Quando cheguei ao 1.º do ciclo já tinha lido os «cinco» todos, uma data de Astérix, do Lucky Luke, do Tintin, a biografia do Edison e do Benjamin Franklin, etc, etc. Além disso, praticava natação na piscina do Areeiro, um desporto em que era bom. No colégio passava o tempo em aulas das 8 às 5 da tarde. Estudava das 18 às 20.00. Deitava-me às 21 horas. A maior parte dos professores até eram melhores do que o meu professor primário. Mas não tinha tempo nem para ler nem para nadar, pois o forte do colégio era o futebol. Paradoxalmente, sentia-me mais livre na escola pública.
Claro que tenho boas recordações de alguns colegas e professores, de alguns momentos. Só isso.
Enviar um comentário
<< Home