terça-feira, abril 03, 2007

Por causa do Pedro Picoito…

Por causa do Pedro Picoito, fui ler no Arrastão uma crónica de Rui Tavares no Público. O Pedro Picoito diz que não concorda com quase nada daquilo que lá vem escrito mas que ficou a pensar. Eu li-a e comecei logo a vomitar, sendo que a culpa não foi do almoço. O texto (presumo que estamos a falar do mesmo) é tão confuso, tão absurdo e tão violentamente mau que nem se sabe muito bem por onde começar o comentário. Mas eu sublinharia, apenas, dois enormes erros de facto que, não sendo inocentes, são sinal da enorme desonestidade intelectual do seu ilustre autor. A primeira é classificar os crimes cometidos pelas “FP 25 de Abril” como uma mera excrescência pós-revolucionária. Eu devo recordar ao “historiador” Rui Tavares que dez anos após o 25 de Abril as “FP” ainda eram uma organização terrorista cujos membros, em geral, queriam continuar a matar e que, muito naturalmente, não se arrependiam de o ter feito num passado recente. As "FP 25 de Abril", e apesar do nome, não são nem nunca foram uma excrescência pós-revolucionária. Aproveitaram uma data que pode ser cara à esquerda e, sobretudo, aos "democratas" portugueses, para indiscriminada e cobardemente assassinarem seus concidadãos. Foi isso que perceberam as autoridades políticas e judiciais que, no Governo do Bloco Central chefiado por Mário Soares, iniciaram e concluíram o seu desmantelamento. E mesmo que o tivessem sido – uma “organização” terrorista estritamente ungida por uma dramática conjuntura pós-revolucionária – certo é que nada desculparia os seus crimes e ressuscitaria os mortos que fez. Sobre isto Rui Tavares nada diz. É aliás curioso que todos recordemos ainda, e bem, o nome de Alcino, assassinado por militantes da extrema-direita portuguesa, mas ignoremos os nomes de todos aqueles que foram assassinados pelas FP ou, antes disso, pelas Brigadas Revolucionárias (estas sim, tal como o ELP, organizações terroristas típicas do radicalismo do PREC. Se fosse cínico apenas diria que há uma certa esquerda que tem uma enorme vocação para produzir mártires, qualidade que, manifestamente, a direita, e quanto ao caso concreto dos crimes cometidos pelas FP, não possui. Dito isto, recordaria que ao pé daquilo que foram as “FP 25” a actual extrema-direita portuguesa é, felizmente e por enquanto, uma realidade relativamente pacífica. É claro que se poderia aqui divagar um pouco sobre o bom e o legítimo que pode ser matar “empresários” e o condenável que é matar negros ou mulatos, recordando que para muita esquerda inteligente a vida destes vale muito mais do que a dos primeiros. Depois pode-se sempre falar dos programas do BE e do PCP para imediatamente como são pacíficos quanto aos princípios, meios e fins que evocam, ou recordar as ligações do BE à extrema-esquerda revolucionária que por esse mundo – e em Portugal – tem espalhado a paz e a concórdia, ou a recente presença das FARC na festa do Avante. Tudo gente pacífica e bem intencionada.
Mas depois vem a questão do racismo. Como se este e a xenofobia fossem em Portugal um problema da extrema-direita ou da direita. Rui Tavares pensa que os partidos de direita como o PSD e o CDS devem começar a convencer os militantes, simpatizantes e militantes de que o racismo e a xenofobia são inaceitáveis. Estou totalmente de acordo. No entanto, só a ignorância, a estupidez e a desonestidade intelectual do Rui Tavares podem supor que o racismo e a xenofobia são uma doença da direita ou dos direitistas.
Assim sendo penso que ficamos esclarecidos sobre a alta relevância de um texto que colheu em estado de enorme debilidade, talvez por causa das penas impostas pela quadra, o meu estimável amigo Pedro Picoito.

7 Comments:

Blogger Cláudia [ACV] disse...

Não foi sopa de marisco, não? :)

11:43 da tarde  
Blogger Pedro Picoito disse...

Ó Fernando, não concordo com quase nada do teu texto, mas fez-me pensar...

(Agora a sério: sei muito bem o que foram as FP 25 porque, quando era um puto de dez anos, cheguei a ter protecção policial por causa do assunto. Vai lá ver aos teus cartapázios quem era o Director Geral da Judiciária que prendeu aquela malta. Acho que foi isso, mais do que a leitura de Burke ou até da DSI, o que me tornou um esclarecido conservador. Só é pena, realmente, estas coisas que um gajo tem que fazer na Quaresma.)
Um abraço pascal

4:08 da tarde  
Blogger Pedro Picoito disse...

Já agora, se tiver tempo (o que é muito pouco provável), tentarei explicar porque é que concordo contigo e não concordo com o Rui. Mas tens que te portar bem... Não podes andar por aí a insultar os meus amigos!

4:12 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Pensar seriamente no que escreve alguém com que não concordamos não me parece que seja sinal de fraqueza (do Pedro Picoito ou de outra pessoa qualquer), mas de uma saudável vontade de reflexão.

Concordo com várias dos teus argumentos Fernando (sobretudo sobre as FP-25). A violência política nunca deve ser desvalorizada. Mas o texto do meu ilustre colega Rui Tavares - um pouco entusiasmado, é certo, na sua missão de educador da direita -surge em reacção à tese de Pacheco Pereira de que o problema do racismo está no politicamente correcto de esquerda. As críticas do Rui Tavares a essa tese parecem-me justificadas. Ele nunca diz que o racismo é específico da direita, apenas apela à direita democrática para lidar seriamente com o assunto. E que a extrema-direita provavelmente anda a tentar caçar votos na tão falada (nomeadamente pela direita) crise da direita parece-me uma banalidade, talvez discutível, mas que dificilmente justifica indignações.

4:36 da tarde  
Blogger rui tavares disse...

"só a ignorância, a estupidez e a desonestidade intelectual do Rui Tavares podem supor que o racismo e a xenofobia são uma doença da direita ou dos direitistas"

devo dizer que só isso tudo permite supor que eu tenha escrito que o "que o racismo e a xenofobia são uma doença da direita ou dos direitistas". eu apenas escrevi sobre um grupo que é em simultâneo

a) da extrema-direita
b) racista

precisamente porque esse grupo existe e cumpre com aquelas condições. só a desonestidade intelectual (para não falar das outras coisas) permite supor que isso signifique que

a) a direita é sempre racista
b) a esquerda nunca é racista

seria de facto muito estúpido se escrevesse uma coisa dessas. felizmente não escrevi. já viram que alívio?!

as melhoras para o Fernando Martins

7:40 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Terrorismo. Que diria Fernando Martins do Plano Condor e da CIA? Qual seria a associação que faria às FP25? Que estima para kissinger, que estima para Otelo? A Guerra suja na Argélia, Iraque, Líbano, Tchetchenia; as escolas fundados nos USA "por" veteranos da Guerra da Argélia que vieram a formar os torcionários das ditaduras sul-americanas. Estaria tudo isto ao nível das FP 25 de Abril?Talvez tudo venha escrito nos mais belos discursos do século XX português.
Pedro Páscoa

5:02 da manhã  
Blogger Fernando Martins disse...

Só vejo lascívia nestes comentários. O que não é necessariamente mau. É péssimo!

2:36 da tarde  

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