Chile 2006

Michelle Bachelet é a actual Presidente da República do Chile e tem legitimidade para se reivindicar do «legado» de Allende. O seu pai, o General Alberto Bachelet, foi torturado até à morte pelos torcionários de Pinochet em 1974. Ela foi torturada no ano seguinte pela DINA, a polícia política. Membro do Partido Socialista Chileno, é a primeira mulher a ascender a Chefe de Estado do seu país e a sexta na América Latina. Médica pediatra de formação, ocupou diversos cargos governamentais, incluindo o de Ministro da Defesa, num continente que todos os «clichés» desenham como machista. São razões suficientes para a considerar uma personalidade interessante, mas a esquerda e a direita portuguesas excitam-se é com decrépito Fidel e o populista Chavez.
O Chile é o país mais próspero da América Latina, com um crescimento económico superior a seis por cento em 2004 e 2005 e superávit comercial. A sua democracia é consistente e com largos antecedentes históricos. Bachelet tem levado a cabo uma política de esquerda que descontentou os estudantes universitários e a Igreja Católica, sem pôr em causa nem a prosperidade da economia nem a democraticidade das instituições. Quantos textos na blogosfera e nos jornais é que já leram sobre as controversas políticas de Bachelet? Os nossos intelectuais deliram é com Cuba e a Venezuela.
Mais de um século depois das conferências do Casino, o bom senso e o bom gosto continuam a escassear em Portugal.