segunda-feira, outubro 02, 2006

O (outro) País das Maravilhas

Desculpa, Fernando, exactamente qual é que era a tua questão? É que estava distraído com o facto do Fernando Collor ter sido eleito senador por Alagoas. Ou pelo Alckmin já estar à procura do apoio do PMDB para o "segundo turno".

Deixo-te uma pergunta minha (para a troca). Se o Lula perder a presidência alguma coisa de essencial irá mudar para melhor no Brasil? Não creio. Não por duvidar dos brasileiros, mas por duvidar do seu sistema político - que até nos EUA cria graves problemas de dinheiro na política. Mas sim, sobretudo, por duvidar que numa sociedade tão desigual possa haver política muito mais virtuosa do que aquela que agora temos (e que é muito melhor do que há dez anos atrás).

PS - Será mesmo que preferes aos cépticos, divertidos e geralmente bem informados diplomatas britânicos (se bem que, por vezes, admito, um bocadinho racistas), por exemplo, os diplomatas dos EUA - da Indochina ao Iraque - que achavam que lá bem no fundo somos todos americanos a tentar saltar cá para fora, e que democratizar é simples, barato e dá milhões (assim toda a gente siga os seus conselhos)?! Estou a estranhar-te.

5 Comments:

Blogger Fernando Martins disse...

Bruno,
Não faço nem coloco "questões". Faço perguntas! E se não as percebes não sei porque razão lhes respondes.
Mas se o problema no Brasil é o sistema político, então não tenho dúvida de que o Lula tem feito tudo para mudá-lo praticando um populismo infrene ao mesmo tempo que fomenta a corrupção nos termos exactos de uma frase que ficou famosa nestas eleições brasileiras, embora proferida por outro candidato e com a qual tu concordas: “Eu roubo mas faço”. De qualquer modo, e quando me refiro à corrupção, nem sequer estou interessado nos escândalos mais badalados. Estou apenas a falar dos votos que se compram a preço de saldo à custa da miséria moral e material de muitos eleitores. E mesmo que não seja apenas o PT a praticá-la, como não é apenas no Brasil que se compram votos aos mais pobres promovendo benfazejas políticas sociais, a verdade é que a mim esse tipo de práticas repugna-me (peço desculpa pela franqueza e pela ingenuidade). Daí que, e naquilo que respeita ao apoio que manifestaste à social democracia brasileira praticada no primeiro mandato de Lula, veja da tua parte uma profunda simpatia por grandes políticos cá do burgo como o major Valentim Loureiro, Mesquita Machado, Isaltino de Morais ou Alberto João Jardim, para falar em muitos outros da mesma estirpe que por aí andam e de que ninguém fala. Finalmente, e vista a tua abertura e compreensão para com uns truques que apenas têm como finalidade fazer o bem ao povo matando-lhe a fome ao mesmo tempo que matam a democracia, suspeito existir uma vocação escondida.
Quanto à diferença que estabeleces entre diplomatas britânicos e norte-americanos, e fosse eu, por exemplo, oposicionista do Estado Novo entre 1933 e 1974, então era óbvio que preferiria o discurso e a prática dos diplomatas norte-americanos. Tu, pelo contrário, viverias deslumbrado com o "realismo" dos britânicos esquecendo porém uma coisa que qualquer pessoa minimamente bem informada sabe que nunca lhes passou pela cabeça: legar aos ex. colonizados as instituições que tinham em casa.

1:01 da manhã  
Blogger Alexandre Monteiro disse...

Se a política no Brasil hoje á mais virtuosa deo que há 10 anos atrás - o que é duvidoso - isso se deve muito mais aos 8 anos de poder de Fernando henrique Cardoso do que aos quatro de corrupção generalizada de Lula.

Não consigo perceber a lógica aqui inerente, de que há corrupção mais aceitável do que outra. Não se deveria condenar todos os corruptos?

6:14 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Meus caros
Dou-me mal com o moralismo em politica e na analise (seja de diplomatas ou de outros). Principios sim, sao indispensaveis, mas nao devem servir de desculpa para nao encarar a realidade.

Se fazer politicas sociais e o mesmo que distribuir electrodomestico a eito realmente nao ha muito terreno comum para discutir.

Sou, como toda a genta, contra a corrupcao. Qual e que e a novidade disso? Suponho que toda a gente seja em principio contra o homicidio, o que nao quer dizer que seja facil acabar completamente com ele. Alguem acredita no Alckmin quando tem como grande bandeira eleitoral acabar com corrupcao? Se isso nao e populismo, e o que?
Eu nao sou a favor da compra de votos de deputados, limitei-me a dizer que isso para mim, tendo em conta a forma como funciona ha dois seculos a politica brasileira, nao chega para anular o lado positivo do governo do Lula.
E condenar a corrupcao nao implica deixar de pensar a fundo sobre o assunto. Alguem contesta que o nivel de corrupcao e o nivel de pobreza e desigualdade sociais estao relacionados? A Suecia e menos corrupta que o Brasil so porque uns sao moralmente mais limpos do que outros?
Nao e pelo facto de se querer muito uma coisa que ela acontece, sobretudo se isso implica fechar os olhos a realidade (veja-se os falhancos estrondosos e muitas vezes sangrentos da politica externa americana.)

PS Caro Fernando aquilo de nao perceber a pergunta/questao era uma ironia.

10:54 da manhã  
Blogger Alexandre Monteiro disse...

Caro Bruno

É óbvio que a corrupção - assim como a violência - grassa em países com uma desigualdade social como a do Brasil.

Agora partir desta constatação para classificar todos os políticos do Brasil como corruptos e assim desculpabilizar a roubalheira generalizada do governo Lula, é que constitui um erro.

Alckmin está longe de ser o homem ideal para a Presidência. Mas o certo é que nos muitos anos que governou o Estado de São Paulo - o mais rico do país - nunca montou uma «rede» como a que Lula e o PT pôs a circular em Brasília.

Quanto à prioridade social do governo Lula, longe de constituir uma política de fundo, está muito mais próxima de um assistencialismo inconsequente e a médio prazo insustentável.

Naturalmente que para quem tem fome, análises macro-económicas são retórica, mas quando se analisa a fundo a última década o que se vê, é que foram os anos FHC - e não os de Lula - que conseguiram retirar mais gente da linha da extrema miséria e reanimar a quase falida economia brasileira.

E isso sem a profusão de mensalões, dólares nas cuecas, enriquecimento de filhos, compra de dossiers, etc, etc, etc

Um abraço

4:54 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Caro Alexandre,

Respeito a sua posição. E, embora mantendo algumas minhas dúvidas, aprecio a sua análise que, sem dúvida, merece consideração.

Um abraço
B

4:25 da tarde  

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