E agora: Marcha contra o Emprego?
O Bloco de Esquerda gabou-se da sua capacidade de mobilização em defesa do emprego. Fraco teste. Alguém é contra o crescimento do emprego? Gostava de ver era a capacidade de mobilização do BE em defesa do desemprego. É que se algumas das políticas que propõem até parecem boas, mas não são novas. Muitas das medidas económicas novas que propõem - das 35 horas até o agravar os impostos sobre as empresas para pagar eventuais buracos na segurança social - levariam a mais desemprego. Aí está uma causa fracturante de que o BE não se lembrou: defender o desemprego!
6 Comments:
Caro Hugo
A pergunta é legítima. Menos trabalhadores disponíveis deveria levar logicamente a mais contratações.
Mas Portugal não é a França, desde logo em termos de productividade ou de apelo turístico ou de mais-valia automática para os seus produtos por terem Paris como endereço. E mesmo em França as 35 horas estão a ser questionadas.
Na minha experiência o pequeno comércio francês (e os arquivos onde trabalho) passaram a ter horários ainda mais restrictivos e disfuncionais. Isso no caso português iria levar ao fecho de mais empresas e a uma subida do desemprego.
Quando na Alemanha se discute na negociação colectiva o aumento dos horários sem aumento do salário para evitar despedimentos ou deslocalização acha realmente que as 35 horas são uma política de emprego para Portugal?
Caro Bruno,
Se eu critico o BE é pela obsessão pelas «questões fracturantes», esquecendo os problemas comuns das pessoas comuns. Por isso, saúdo que o BE use o seu poder mediático para discutir a questão do emprego. Claro que a solução para o problema não é fácil e as 35 horas semanais parecem utópicas num país em que o cumprimento do horário formal de trabalho já implicava uma redução do tempo de trabalho. No «Fuga para a Vitória» o Daniel Melo fez uns links para as propostas concretas do Bloco. Claro que não acredito que ninguém tenhas soluções na manga, mas vale a pena discutir estas questões.
Vale a pena discutir, sem dúvida, propostas sobre o emprego. Mas o Bloco não está interessado nisso. Se estivesse não organizava uma marcha, organizava debates com pluralidade de opiniões, pelo menos à esquerda. E não terminava esta longa marcha com um ataque a reformas essenciais para permitir a sustentação do Estado Social feitas pelo actual governo do PS.
Um partido não é uma academia, não tem que organizar "debates com pluralidade de opiniões", mas sim apresentar a sua, com argumentos e dados sobre a respectiva repercussão.
Qt. à marcha, é uma forma de apresentar a mensagem, tão-só, alguns falam em folclore, mas preferirão o Portugal sentado, cinzentão, dos comunicados de imprensa lidos quais redacções de 4.ª classe? Há outras forma, não é isso que é que é o fulcro da questão.
Qt. aos ataques às "reformas essenciais" do "actual governo do PS", isso é política convencional, embora tb. não seja do meu agrado. Tenha sido ou não infeliz (não vejo tv, como já disse noutro post mas, a crer no teor do que escreve BCR, terá sido exagerado), isso faz parte das picardias entre políticos.
Em suma, aqui no Amigo não debateram as tais propostas concretas, preferiram chutar para fora. Acontece.
Caro Daniel interessa-me discutir conteúdos, e o tema do emprego em que não sou evidentemente especialista, interessa-se e há blogues que sistematicamente publicam coisas relevantes sobre isso (por exemplo o Canhoto). Mas também me interessa discutir a forma (de fazer política.)
o Bloco não pode estar à espera de fazer política habitual, atacando o actual governo em termos populistas, e depois apelar à elevação do debate, e supõe-se que a uma discussão séria e desapaixonada das suas propostas.
É verdade que um partido não é uma universidade. E o Bloco tem toda a legitimidade para apresentar as propostas que entender. O que já não é honesto e apelar ao debate ao mesmo tempo que se parte ao ataque de quem minimamente poderia estar interessado em debater - a outra esquerda, não só o PS, mas também o PCP.
Além disso parece-me perfeitamente possível que um partido, ou pessoas a ele ligados, organizem debates com algum pluralismo, pelo menos num mesmo espaço política. Se é realmente debate e pontes que se quer fazer. Mas desconfio que como vai sendo costume no BE se trata só de fazer barulho.
Proposta e ataque agressivo, tb. já acedi a que possa ter sido contraproducente.
Já a 4.ª frase, reincide no preconceito e daqui não saímos. Ainda hoje falávamos disto ao almoço: por cá o debate é dificílimo porque há mt. cristalização de posições, político-partidárias, fácticas, sociais.
Pior: como avançar no esclarecimento e na pedagogia cívica, de que ontem tb. falava implicitamente o Rui Ramos (no interessante tx. sobre a direita), se o Parlamento, que é, ao lado da academia e do 3.º sector, o espaço por excelência da pluralidade de ideias, é desvalorizado,tanto pelo próprio poder político como pelos media mainstream?
E se o espaço público cada vez se prende mais ao acessório, à forma, em vez de discutir os assuntos em si? Quer dizer, fazer 1 marcha não tem mal nenhum, até é 1 forma diferente, mais alegre. Podiam tb. ter feito 1 sessão de divulgação/ reflexão? Concordo, mas o estritamente exigível do ponto de vista do cidadão não era isso, mas sim o apresentar publicamente e argumentadamente as ideias.
O resto do caminho tem que ser o Estado e a sociedade a trilharem (e não só o PS e o PCP), lendo, reflectindo, comentando e discutindo. Desejavelmente, conteúdos, mas não esquecendo o espaço tb. para a forma, se for relevante.
É que, se nós, cidadãos, matamos o debate à partida, então podemos fechar o estaminé, porque, neste contexto de centrão predominante, não há mais nada para fazer ou dizer de pertinente.
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