terça-feira, junho 06, 2006

Profissão Mal Paga? Auto-Avaliação


A interrogação de Eduardo Pitta faz, parece-me, todo o sentido. A um nível pecuniariamente menos interessante, tome-se como exemplo alguém nos primeiros anos da sua vida profissional, com qualificações semelhantes às minhas. Um licenciado em História, detentor de habilitação para a docência no 3º Ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário (vulgo Ramo de Formação Educacional), se for contratado como professor, auferirá ilíquida e mensalmente, segundo a tabela deste ano, entre €1074,48 e €1287,67. Se porventura for técnico superior na função pública, algures entre o índice 321 e o 400, auferirá, segundo a actual tabela do regime geral, entre €1033,36 e €1287,62. Se trabalhar como investigador, seja na situação de bolseiro ou trabalhador independente, num mercado profissional cuja referência é, regra geral, a tabela FCT, (e se for detentor, no mínimo, do grau de mestre), ganhará cerca de €980 mensais. Olhando para outras áreas profissionais*, pode-se constatar que um enfermeiro de nível I, em horário normal, ganha este ano, trabalhando para o Estado, entre €956,56 e €1074,04; no privado, um bancário (no caso, do grupo BCP), técnico de grau IV, nível 8 da tabela salarial deste ano, ganha €1036,50; nesse mesmo grupo, um comercial que seja já Chefe de Estabelecimento ou de Operações, ou um Administrativo que seja Chefe de Sector, ou Sub-Chefe de Secção, ganham outro tanto.
Desta perspectiva, a profissão de professor não me parece mesmo nada mal paga. Parece-me até suficientemente atraente para gerar a candidatura de dezenas milhares de pessoas, ano sim, ano sim.

*Agradeço críticas ou correcções à s comparações apresentadas, caso os escalões, categorias ou valores não correspondam à realidade salarial de profissionais em início de carreira, com habilitações superiores.

3 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Tendo em conta a carga horária (bastante elevada) e o facto de a maioria dos candidatos a professor saber que, durante muitos anos, não irá ficar colocado, ou ficará em horários reduzidos e muito longe de casa, não será porventura pelo salário de horário completo que tantos concorrerão à profissão. Há outras razões, bem mais profundas.

Em resumo, ao contrário das outras profissões referidas, um professor só começa a ganhar o valor de início de carreira muitos anos depois de começar, efectivamente, a carreira (e depois de 6 anos de formação, nalguns casos, sem ganhar nada e com estágio não remunerado).

Cumprimentos,

10:19 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Sei que a maior parte das pessoas não considera a "carga horária" dos professores muito elevada, mas isso será porque a confunde com "carga lectiva" que é algo completamente diferente. As 22 horas de aulas dos professores são uma pequena parte do trabalho dos mesmos.

Tenho vários amigos professores que são sempre os que têm menos disponibilidade para o que quer que seja porque estão constantemente a preparar aulas.

10:27 da tarde  
Blogger Cláudia [ACV] disse...

Caro Marco,
não tive por objectivo julgar as motivações profundas de cada candidato, ou seu grau de dedicação ou motivação, porque isso não é aferível, ou pelo menos eu não me abalançaria a tal. Apenas me limitei a expôr as condições de partida para o acesso a uma profissão, em comparação com outras.

Nesse sentido, permita-me que insista na comparação que utilizei para a mesma área: um professor de História (4 anos)profissionalizado (+ 2 anos) que seja contratado pela primeira vez ganha, no mínimo, €1074,48, enquanto que um investigador de História(4 anos)com grau de, pelo menos, mestre (+ 2 anos) ganha cerca de €980. Vão €94,48 de diferença, e se investigador for trabalhador independente terá um quadro fiscal mais desvantajoso que o professor, para além de não poder usufruir de um sistema de saúde, de outros eventuais subsídios, ou de um regime de férias e pausas tão favorável. Estabeleci propositadamente a comparação entre duas carreiras de acesso díficil (a de professor não o é mais que a de investigador, nem sequer mais incerta), ainda assim uma leva vantagem clara sobre a outra. E não vale isto (tanto ou mais) para outras áreas, como a de Línguas e Literaturas, Antropologia, ou Sociologia?

Quanto à carga horária, pelo que até hoje me foi dado a observar, um bom docente em início de carreira, como qualquer profissional organizado, pode cumprir as suas funções mais que competentemente com uma média de trabalho em 40-42 horas semanais, que é o o que têm de fazer (no mínimo também), um bancário ou um enfermeiro na mesma situação de carreira.

Não vejo pois, que a profissão de professor seja muito mais penosa que outras, o que não implica que ache - não acho mesmo - que seja uma carreira fácil ou pouco importante.

Sinceros cumprimentos,
ACV.

12:28 da manhã  

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