Na
Coreia do Sul já há
clínicas para jogadores compulsivos de jogos de computador. É o que dá a alienação, o hedonismo, a falta de valores e disciplina da sociedade actual. É o que dirão uns. É o que dá uma sociedade em que a droga e o sexo são especialmente inacessíveis, em que há uma constante pressão para se ser o melhor na escola, na universidade, no emprego. É o que dirão outros. É o que dá uma sociedade em que 70% das casas têm boas ligações à internet, e há cibercafés baratos por todo lado. É o que direi eu (a terminar).
Qual é a nicotina desta dependência? Aparentemente a epidemia tem como motor os jogos de fantasia, em que o jogador pode desenhar a sua personagem - naturalmente dotada de poderes especiais - e viver uma vida heróica num mundo virtual de acção e magia sem fim. Um dos viciados, em recuperação numa dessas clínicas especializadas, explica (num tom que me faz lembrar o velho Herman José):
"Já não mudava de roupa. Já não saía à rua. Comecei a identificar-me com a minha personagem." A primeira dúvida que me assalta é: como é se faz a cura? Privação total de jogos ou até de computador? Por quanto tempo? Nunca mais se pode jogar a nada, nem um tetris?
Mas há uma dúvida mais essencial (existencial). Sendo que morrer por tal causa será talvez um pouco excessivo, qual é a verdade maior, onde é que a pessoa é realmente ela? É na sua fantasia? Ou é na máscara que coloca para sair à rua, ir à escola ou ao escritório? Apeteceu-me deixar o jornal virtual e ir ler
Zizek para o parque.
2 Comments:
Muito interessante, mas eu pensava que me ias finalmente falar das reformas necessárias ao sector privado... :)
A seguir. Estou com demasiado trabalho para isso. O mote sera precisamente os trabalhadores...
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