La Chipionera no se muere nunca!
Devota da Virgem de Chipiona – sua terra natal – seria um justo prémio que com Ela já se tivesse encontrado, nesse local onde supostamente estes acontecimentos se produzem (isto apesar de há cinco anos ter sido “pregonera” nas festas da “Virgen del Rocío”, concretizando o sonho de uma vida). Para a maioria dos portugueses o nome de Rocío Jurado pouco ou nada significa. Aqueles que entre as nossas elites bem pensantes alguma vez se tenham cruzado com Rocío – “la Chipionera” – não hesitaram certamente em desqualificá-la apodando-a de “pirosa” e “fútil”. É natural! Em Portugal, país no qual dificilmente a cultura popular sai do gueto em que a meteram desde o advento do liberalismo no século XIX, não se percebe e não se reconhece a riqueza e, sobretudo, o potencial da cultura popular. Potencial cultural, desde logo, mas também social e económico. A pequenez e a mesquinhez que globalmente caracterizam os portugueses dificilmente permitem que, sem a devida intermediação das elites, algo se afirme por mérito próprio na vida cultural – e não só – deste país à beira mar plantado. As Rocío Jurado – independentemente de Rocío Jurado ser única – que tenham existido neste país, ou bem que nunca foram (re)conhecidas, ou, antes disso, nunca sequer tiveram uma oportunidade séria para fazer carreira no mundo do espectáculo.
Não vou agora falar da vida artística de “la Chipionera” – veja-se neste obituário uma excelente caracterização das suas qualidades de cantora; passarei ao da sua deleitável vida amorosa – casou duas vezes, a primeira com o pugilista António Carrasco, a segunda com o matador José Ortega Cano (declaradamente o amor da sua vida); nada direi sobre a forma como o casamento e posterior separação da sua filha Rocío Carrasco com e do guarda civil António David Flores encheu páginas de “revistas del corazón.” “La Chipionera”, e isso é o que verdadeiramente importa, além de uma voz única e um talento ímpar, conseguiu através da forma única como se relacionou com os media em cerca de quarenta anos de carreira, ganhar o respeito de todos e, sobretudo, demonstrar uma inteligência que muitos algumas vezes desprezaram ou não compreenderam, além de um carácter que a colocava acima dos seus pares.
Hoje, dia de velório, toda a Espanha lhe presta homenagem, sendo certo que por toda a América onde se fala espanhol se chora a morte de Rocío. Juan Carlos telefonou a Ortega Cano, Zapatero e Felipe Gonzalez lamentaram sentidamente a sua morte. Na TVE, e presumo que noutros canais generalistas espanhóis, fala-se de um evento há muito aguardado com rigor e bom gosto, com a entrega própria de “nuestros hermanos”. Inúmeros políticos, escritores, “famosos”, artistas e, sobretudo, cidadãos anónimos prestaram-lhe, prestam-lhe e prestar-lhe-ão homenagem. Esta mulher e esta artista une os espanhóis numa altura em que o futuro de Espanha é uma enorme incógnita. Que a morte de Rocío Jurado não seja o prenúncio da morte de Espanha, é o derradeiro voto que podemos fazer e um anseio que ela certamente partilharia.
5 Comments:
Não querendo ser ofensivo (em espanhol acreditem-me que não soa tão ofensivo), mas nada como a morte de uma folclórica para o folclore da celebração da balcanização fúnebre de Espanha.
já agora...
quem são as rocío jurado do nosso país?!?
Então e o fado? Então e a Amália? Cultura popular não tem de ser música pimba.
"Juan Carlos telefonou a Ortega Cano"... Qual juan Carlos? Quererás dizer o "rei de Espanha"? :)
...de facto não há nada como o
folclore da ignorãncia...
Innfelizmente em Portugal não temos uma Rocio Jurado como já não existe em Espanha.Ela era única.Abrangia todos os géneros de musica.Era inteligente e culta.Trabalhava duramente e com paixão respeitando o público mesmo aquele que critca o que desconhece...
O Museu,agora em construção,onde a sua obra será exposta, a fundação da Associação Cultural Rocio Jurado La Mas Grande(já laborando)e
vários eventos anuais já calendarizados tambem servem para alguns aprenderem a tomar conhecimento dos temas que abordam sem que deles tenham alguma noção.
Se quiserem...claro!Isto da cultura...dá trabalho...
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