sexta-feira, maio 19, 2006

Até Sempre!


Desde o ano lectivo de 1993-1994, e até hoje (o último dia de aulas para os alunos de licenciatura da Universidade de Évora), "leccionei" a disciplina de História Económica, Social e Política Contemporânea no Departamento de História. Fi-lo às várias licenciaturas que se vão conseguindo aguentar aqui na Universidade de Évora. Uma reforma dos currículos iniciada há quatro anos fará com que o plano de estudos seja diferente em Setembro próximo ano lectivo. Sê-lo-á para os alunos finalistas e para os professores que, como eu, dão aulas no quarto ano das licenciaturas em História. A crise que atravessam todas as Universidades portuguesas há uma meia dúzia de anos, obrigou a que se começasse a mudar, para que agora novamente se mude, uma vez que o modelo de Bolonha deverá estar totalmente implementado em 2007-2008.
Mas não é isso que importa. O que realmente importa é o fechar de um ciclo na minha vida profissional. Para trás fica a possibilidade de ensinar quatro horas por semana, e a alunos das mais variadas procedências, uma "matéria" que permanentemente me fascina, ou não fosse ela merecedora do trabalho de um sem número dos mais notáveis historiadores europeus e norte-americanos. Para trás ficam as aulas teóricas e as aulas práticas onde livremente se falava da revolução americana, da revolução francesa, da guerra civil americana, da revolução bolchevique, das revoluções fascistas ou das revoluções terceiro mundistas no século XX. Onde se discutia a historiografia sobre a natureza política e social do estalinismo e do nacional-socialismo. Em que diplomacia e guerra – desde 1648 até à mais recente invasão do Iraque – ocupavam todo um semestre; onde se explicava o significado dos anos dourados na Europa e nos EUA nos 25 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e a importância e a relevância de personagens como Truman, Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon ou Reagan, Napoleão, Luís XIV, Luís XV e Luís XVI, De Gaulle, Hitler, Mussolini, Guilherme de Orange, Richelieu, Robespierre, Catarina a Grande, Lenine, Cavour, Napoleão III ou Bismarck. Para além de Estaline, Bukharine, Leão XIII, Eden, Churchill, Clinton ou George W. Bush. Em que se lia e leu Gordon S. Wood, Paul W. Schroeder, Henry Kissinger, James M. McPherson, E. J. Hobsbawm, Richard Pipes, Sheila Fitzpatrick, John Lewis Gaddis, James T. Patterson, T. C. W. Blanning, Bernard Lewis, Charles Kindlebereger, G. Himmelfarb, Graham Fuller, John Rule, E. A. Wrigley, E. P. Thompson, etc., etc. É claro que a vida contínua e os desafios que aí vêm poderão ser muito mais interessantes do que aqueles que fui tendo desde Dezembro de 1993. Mas impunha-se uma palavrinha àqueles que me ajudaram a tornar este trabalho mais estimulante. Os historiadores cujas centenas de livros e artigos li, reli e, às vezes, tresli; as centenas de alunos que se empenharam em trabalhar comigo em busca de mais e mais conhecimento e liberdade.

2 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Caro Fernando Martins:
Gostei muito de ler este seu texto que reflecte a sua consciência aguda como universitário.Mas não vamos deixar que a pretexto de Bolonha a História Contemporânea volte à clandestinidade em Portugal, pois não?Abraço amigo

1:33 da manhã  
Blogger Fernando Martins disse...

Claro que não, valendo a pena sublinhar que são os alunos, e não apenas os da Universidade de Évora, a possuir ideias muito claras quanto à importância da história contemporânea na sua formação académica.

1:47 da manhã  

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