sexta-feira, março 17, 2006
Talvez por causa da chuva que cai copiosamente em Évora esta manhã, acordei com uma enorme nostalgia do império colonial português em África. Daquele que recomeçou com a Segunda Guerra Mundial. Logo eu que nunca pus um pé no continente negro e só o conheço do meu trabalho de historiador. Mas talvez por isso saiba que nem tudo foram cardos. Esta é uma maneira de homenagear aqueles que indo da metrópole muito deram àquelas terras – como militares ou como civis – e os que sempre lá estando sofreram com o colonialismo mas também dele beneficiaram e que ainda se interrogam sobre se os países livres e independentes que herdaram, há mais de trinta anos, eram aquilo com que eventualmente sonharam e lhes prometeram. Como me confessava há uns anos um guineense internado como eu no Hospital Egas Moniz, para que a independência tivesse sido minimamente aceitável teria bastado que o PAIGC tivesse deixado como antes da independência.
2 Comments:
Caro Fernando, há muita, muita gente que não percebe o que se perdeu naquelas terras. E há muita gente que não pode admiti-lo porque isso deixaria a sua consciência em frangalhos...
Caro Fernando e Luís,
Saudades só mesmo do V Império...O destino da África de expressão foi trágico, mas a responsabilidade maior do cortejo de misérias no período de independência pertence aos governos africanos.
Se Portugal tem responsabilidades elas devem-se essencialmente aos colonialismo do pós-II Guerra Mundial que não soube preparar elites africanas nem admitiu uma transição gradual para a independência das colónias africanas, quandos os países europeus começaram a descolonizar.
Não vejo por que é que aqueles que se empenharam e sofreram na luta anti-colonial haviam de «ficar com a consciência em frangalhos». Estavam excluídos do poder. Grande parte da actividade daqueles que estudei consistia em divulgar informações que eram negadas pela censura e impediam uma compreensão do que se passava. Claro que muitas informações eram parciais e misturavam-se com a contra-propaganda. Mas como poderia ser diferente numa ditadura que enfrentava uma guerra colonial ?
O que aconteceu não era uma inevitabilidade. O Fernando admite que bastava o PAIGC não ter destruído o legado português para a situação ter ficado melhor. O assassínio de Amílcar Cabral foi um dos muitos azares dos guineenses. Um líder pode fazer a diferença. O Nuno Teotónio Pereira tinha como modelo do socialismo africano a Tanzânia. Estive lá o ano passado. É um país organizado, onde se vê pobreza (cá também) mas não miséria. E que nunca sofreu o flagelo da guerra civil. É um país onde os portugueses deixaram marcas culturais apesar de não terem tido uma presença colonial na Época Contemporânea. Enfim, essas nostalgias devem é traduzir-se com cooperação com a Àfrica lusófona.
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