domingo, fevereiro 05, 2006

Bom senso e bom gosto

O porta-voz do Departamento de Estado, Justin Higgins, e o primeiro-ministro português, José Sócrates, foram algumas das vozes do mundo ocidental que se ergueram contra os caricaturistas dinamarqueses. «Estas caricaturas são obviamente lesivas para as crenças muçulmanas», disse Higgins. Os caricaturistas não teriam sido «responsáveis» nem respeitado a «dignidade» dos muçulmanos, para Sócrates. A imprensa dinamarquesa ultrapassou os limites do bom senso sugere o director do Público, José Manuel Fernandes.
A todas estas afirmações peremptórias apetece colocar uma pergunta simples: porquê ? Eu concordo que a liberdade de expressão não substitui o bom senso, o bom gosto e o respeito pelos outros. E daí ? Não me parece que os caricaturistas dinamarqueses tenham ultrapassado qualquer destes limites. Nenhuma das caricaturas tem carácter pornográfico. Não vi nenhuma ofensa gratuita como seria, por exemplo, representar Maomé a beber vinho e a comer carne de porco. O que os caricaturistas fizeram foi responder com o riso ao terror em nome de Alá. Não há atitude mais pacífica. Parafraseando Higgins, estas caricaturas não são lesivas para as crenças muçulmanas, mas sim para a lógica de terror que se apoderou de parte do islamismo e justifica a política militar norte-americana.