quarta-feira, fevereiro 01, 2006

O Conteúdo e a Forma

A lusoblogosfera é muita coisa, muito mais que o rol constante nas shortlists dos apontadores nacionais. Como leitora, tendi de início a optar por passar ao largo do flog amador, do diário do recreativo da freguesia, do poemário incógnito. Azar o meu, há por aí muito autor desconhecido e interessante. Mandavam mais, e ainda mandam, a curiosidade de saber o que dizem as pessoas de quem se fala, as pessoas que admiro, as pessoas linkadas, umas vezes por limite de tempo, outras por pura rotina. Outras, ainda, por sentir pouca legitimidade para validar o que leio sem segunda opinião. Distinguir e apreciar blogs que não podem ser outra coisa senão blogs, os que trabalham com singularidade a cadência, o hipertexto, a interacção com quem os lê, é coisa que demora.
Quem por estas bandas ciranda há pelo menos um par de anos assistiu à resistência inicial com que o medium foi encarado por quem já intervinha noutros media, salvas duas ou três excepções. Só depois dos geeks e das "crianças", como disse Eduardo Pitta, chegou à blogosfera gente consagrada no mundo literário, na imprensa, na rádio e televisão. Ainda bem, qualidade nunca está a mais em lado nenhum, e é da maneira que se abandonam de vez as preguiçosas comparações entre weblogs e portas das casas de banho públicas. No entanto, Ivan Nunes escrevia ontem não se sentir optimista face ao espírito proto-qualquer-outra-coisa-em-papel entretanto instalado. Entendo-o: o artesão não é independente do instrumento, como o conteúdo não é independente da forma. Só não partilho do seu cepticismo por haver muito por onde escolher, dentro e fora das shortlists.