terça-feira, janeiro 17, 2006

O Rei e a "res publica"

Caro João, o Rei não é imparcial, é independente. É um facto que não é um homem saído de partidos. Não acede ao seu lugar através da luta partidária (que é digna e tem o seu lugar) e não depende dela para se manter nesse lugar. O argumento de Hume não é que o príncipe hereditário (ou Rei) seja imparcial, é que, para exercer as funções que lhe cabem como chefe de Estado, não tem sentido que saia de um confronto partidário que forçosamente divide a sociedade.

A "violência" no fim da monarquia constitucional deveu-se à estratégia de um partido que não estava disposto a jogar as regras constitucionais (as leis da "res publica") e não ao Rei. Mesmo todo o episódio de João Franco o que mostrou foi um monarca que tentou viabilizar uma solução governativa fora das lideranças dos partidos (porque estes notoriamente não garantiam solução nenhuma de estabilidade), ganhando a hostilidade de todos eles, sem excepção; a acção do Rei nesse contexto poderá merecer críticas, mas não a de ter alinhado partidariamente.