Em louvor do Povo e da República
O povo português tem virtudes notáveis: assimilou facilmente as pessoas que voltaram a Portugal após a descolonização enquanto a França criou o estigma dos pieds noirs após a independência da Argélia; levantou-se em 1999 pela independência de Timor-Leste; contribuiu para o desenvolvimento económico da França, da Alemanha e do Reino Unido. Se as suas qualidades de trabalho não são aproveitadas em Portugal tal deve-se à traição das elites político-económicas apostadas na exploração de uma mão-de-obra barata; preferindo ganhar subsídios da União Europeia para não produzir a criar riqueza; reclamando favores do Estado para manter os «centros de decisão nacionais» mas trocando facilmente os princípios por mais-valias quando surge uma oportunidade de vendar acções a interesses espanhóis.
Os «Elementos de Doutrina Neocartista» do Luís Aguiar Santos valem a pena ser lidos aqui. Sublinho as críticas ao sistema republicano que vai buscar a Hume:
1.º que a eleição do monarca tem, na prática, um factor de “acaso” tão grande como a designação pelo mecanismo hereditário, não garantindo a ocupação do cargo por uma pessoa em si mesma mais inteligente e talentosa (…); 2.º que para chegar a ser candidato e depois a ser eleito, o monarca temporário tem de fazer alianças e aceitar compromissos dos quais nunca se poderá ou saberá realmente libertar durante o exercício do seu mandato (…); 3.º que a escolha eleitoral do monarca, ao contrário da eleição de um parlamento, é um germe cíclico de guerra civil porque requer a constituição de duas ou mais facções rivais de cuja confrontação só uma sairá vitoriosa e ficará representada (…).
Vejamos por que é que prefiro a República: em primeiro lugar, o sistema eleitoral não garante a escolha dos melhores mas, como diria outro liberal, Karl Popper, permite eliminar mais fácil e pacificamente os piores. Convém lembrar que, em dois séculos, este país de «brandos costume» assassinou dois Reis: D. João VI e Carlos I. Em segundo lugar, essa ilusão de que o «monarca temporário» faz alianças e aceita compromissos enquanto o «monarca hereditário» representa a todos é negada pela História portuguesa. Durante os seus últimos anos, a monarquia constitucional portuguesa alienou uma parte significativa do povo português, nomeadamente a pequena-burguesia urbana constituída por professores primários, barbeiros, jornalistas, etc onde grassavam as ideias republicanas. Hoje choca-nos mas em 1908 formaram-se filas de republicanos convictos que queriam apertar a mão aos cadáveres dos regicidas. O último ponto não é uma inevitabilidade. Os eleitores podem e devem evitar colocar na Presidência da República os candidatos que transportam «os germes da guerra civil» e preferir os candidatos que, mesmo tendo um percurso partidário, conseguem mobilizar diferentes sectores sociais e ideológicos.
3 Comments:
Lembrem-se o regicídio e os que faziam bicha para saudarem os regicidas... os traidores que ergueram o maior logro da nossa história recente. A despótica monarquia aceitava republicanos no seu parlamento. Já a democrática república sovava na rua os monárquicos. Morra a república portuguesa. Viva Portugal!
Desmandos e destemperos não têm regime favorito nem lhe servem de justificação, Sr. Anónimo.
Mas quem tenha mais desmandos e destemperos e quem tenha menos, cara Cláudia...
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