quinta-feira, janeiro 19, 2006

O Problema da Condução

Faço pouco mais que uma vaga ideia do que se passa nos Passos Perdidos, em Belém, nas Necessidades ou na Boa Hora, por isso não sei como é a condução de quem por lá trabalha. A postura de nós outros, porém, está bem mais à vista: excesso de velocidade, falta de sobriedade, manobras impensadas, agressividade, incumprimento da lei. Não, não estou a falar da tragédia rodoviária. Estou a falar do péssimo uso que fazemos do poder informal.
Qualquer pessoa que tenha tido uma experiência duradoura de trabalho colectivo antes da idade adulta, fosse no dramático do bairro, na equipe de futebol lá da escola ou no grupo de jovens da paróquia, está minimamente preparada para a natural tensão e para a concorrência que as relações sociais comportam. O que não cessa de me espantar é o facto de tantos de nós não estarmos. Ordem de trabalhos, hierarquia, devido procedimento, informação reservada, decisão, voto vencido, parecem ser conceitos vazios ou desconhecidos. Por ignorância ou má-fé, a nossa descrença em todos eles faz-nos reféns do sangue, do afecto e do conhecimento pessoal. O que deveria ser um recurso excepcional é o recurso useiro e vezeiro. Mantemo-nos, sem nos apercebermos, estupidamente individualistas. Como na estrada, utilizamos por sistema a via mais rápida - e o resultado é o mesmo.

2 Comments:

Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Concordo em absoluto com o que escreves. Só não lhe chamo individualismo (que é uma coisa digna e que implica reciprocidade nas relações humanas). Chamo-lhe facilitismo, parasitismo, miserabilismo.

1:33 da tarde  
Blogger Cláudia [ACV] disse...

Um individualismo consciente e respeitador do outro é obviamente digno de toda a consideração, Luís. Mas esta estirpe extrema (uma espécie de egoísmo tribalista?) que por cá se dá, geralmente justificada e (auto-justificada) com um "struggle for life" distorcido em " é lei da selva"...
Como sou uma optimista, acho que isto pode melhorar brutalmente com uma valente barrela educativa, da tenra infância ao fim da adolescência.

3:38 da tarde  

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