Sá Carneiro - Eu creio que nestes anos passados se verifica um maior afastamento da social-democracia em relação ao socialismo de influência marxista ou socialismo de Estado. Uma e outro são, de facto, incompatíveis. A social-democracia é uma resposta pragmática, de obediência a determinados princípios e ideias, mais do que uma ideologia, para conciliar a liberdade em todos os domínios com a necessidade do prosseguimento de uma grande justiça social. (...) Esta social-democracia representa ideias modernas e actuais e contraria e combate ideias do século XIX absolutamente desactualizadas e incapazes de resolver os problemas, como são a ideia da propriedade dos meios de produção pelo Estado e das nacionalizações sistemáticas. A social-democracia está muito mais adaptada à sociedade pós-industrial, à sociedade dos conhecimentos, da informação e da informática que tende a ser a nossa sociedade de hoje. Deixámos de ser sociedade de capital e por isso deixaram de interessar sobretudo a propriedade dos meios de produção, para sermos uma sociedade de conhecimentos e de transmissão desses conhecimentos. Esse será o futuro e a social-democracia como outros caminhos, embora não sociais-democratas, está muito mais actualizada e muito mais apta a interpretar e a governar as novas sociedades de conhecimento, de informação e de informática que já existem no mundo e que se terão de generalizar mesmo ao Terceiro Mundo. (...)
Tempo - É essa a social-democracia que gostaria de ver aplicada em Portugal?
Sá Carneiro - Com certeza que sim. E a política que temos seguido, embora não partidária, comunga destas linhas. Linhas que são participadas também e defendidas por partidos sociais-cristãos e por partidos democratas-cristãos e até por alguns partidos liberais. São linhas profundamente reformistas que vão ao encontro dos novos valores, para com eles defenderem o essencial da política que está presente nas várias posições partidárias, sejam elas sociais-democratas, democratas-cristãs ou liberais: a pessoa humana.
Extracto de entrevista concedida por Francisco Sá Carneiro ao Tempo, em 18 de Setembro de 1980. In Francisco Sá Carneiro: Textos (7º volume, 1980), uma relevante iniciativa de digitalização organizada pelo Instituto Francisco Sá Carneiro e disponível no seu site. Afinal, não tão "leve-e-com-muito-vídeo" quanto isso, Carlos.
3 Comments:
apenas comparativamente mais leve em termos de textos e discussão política. Aliás, que o destaque está em citar autores falecidos (evite-se Luciano Amaral, etc), apesar de ser uma iniciativa que não menosprezo (como é público), difícil seria manter um espaço de debate como o blog e o forum do Res Publica. COmo se vê pela citação: estas ideias são as predominantes no PS (e mesmo aí foram inicialmente contestadas, qundo Cardia as defendeu, justamente em 1980), não as do PSD. Daí me ter referido ao silêncio de ideias também no site por comparação (de novo) com a profusão de video. Isto não implica negar que, como site, até é mais user-friendly...
Registo o teu entusiasmo com as iniciativas on-line do PS, mas parece-me prematuro, um olhar comparativo sobre a qualidade da presença dos dois partidos (nestes novos formatos) na web; falamos de algo absolutamente in progress(ai, já estou a abusar dos anglicismos...), foi só isso que quis ressalvar com a nota de rodapé.
Depois, uma curiosidade: não sei se percebo por que razão identificas o património social-democrata como presente (e predominante)no PS e não no PSD. Afirma-lo porque consideras que o
Sá-Carneirismo (entendido precisamente como um projecto desenvolvimentista, em entendimento com o liberalismo, a democracia cristã e socialismos não-ortodoxos) não fez doutrina no PSD? A mim parece-me que fez.
[abraço, bom fim de semana]
O eentusiasmo só memso tu para registares, pelo menos com o ste da res Publica... sobre o pensamento sá-carneirista, facto é que a AD não fez governação social democrata nenhuma e que o socialismod emocrático em Portugal sempre foi o espaço do PS. Bem ou mal ocupado, essa é outra questão (várias, aliás).
bjcas,bom fds
Enviar um comentário
<< Home