sexta-feira, maio 09, 2008

Liberdade e horizonte juvenil

Quarenta anos depois do Maio de 68, evoca-se o acontecimento como um período absolutamente marcante na história da segunda metade do século XX através de uma série de iniciativas. Perspectivando aquela data mítica, Zuenir Ventura, autor de um livro clássico, lançou agora no Brasil outro livro intitulado O que Fizemos de Nós. O pertinente título da obra transporta uma pergunta inevitável sobre o que dos anos 60 vai restando.
Poderá haver quem se lamente do alheamento da juventude relativamente a um certo empenhamento social e político, mas nada disso poderá, na verdade, ser um motivo de espanto. Existem diferenças existenciais profundamente marcantes onde cada geração integra a sua experiência vivida. De uma maneira geral, os jovens de hoje, herdeiros do Maio 68, usufruem de uma liberdade conquistada mas sem perspectivas numa vida condenada à precariedade, ao provisório e à instabilidade, em contraste com aqueles que nos anos 60 eram jovens, porventura sem liberdade, mas que tinham no horizonte a perspectiva de uma estabilidade reconfortante. Na nossa contemporaneidade, a ansiedade juvenil, não pela falta de liberdade, mas pela falta de futuro (que era o que antes abundava) surge como um novo desafio a superar. Quando se tenta, hoje em dia, interrogar o afastamento da juventude, deve-se ter em conta esta ansiedade que, frequentemente misturada com desânimo, se torna na mentalidade reinante porque também é esse o enquadramento da realidade que é transmitido.

6 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

E a juntar a isso os jovens tem outro grande desafio inerente à sua condição natural: nas palavras do Papa têm de ter cuidado pois "o sexo pode tornar-se numa droga".

11:49 da manhã  
Blogger João Miguel Almeida disse...

« a ansiedade juvenil não pela falta de liberdade, mas pela falta de futuro» é uma frase bem achada. Toma nota, David, frases assim não surgem todos os dias.

6:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Falta de liberdade/abundância de futuro
Sempre pensei que um dos motivos pelos quais se luta pela liberdade é conquistar o direito a ter futuro.
Afinal, há liberdade mas não há futuro. Liberdade, para quê se não há nada para além do presente (e do passado)?
Ensinámos aos jovens que o mundo deles é diferente do nosso, mas definhamos porque não tentam conquistar o futuro à nossa maneira.
Os jovens desconhecem o futuro e não se dão ao trabalho de o querer ver com os nossos olhos de velhos. É um direito da liberdade alcançada.
MJP

12:43 da manhã  
Blogger David Soares disse...

Caro abençoado,

O desafio enunciado circunscreve-se certamente aos jovens católicos a quem, no geral, é oferecido um sistema de fins últimos que dão sentido à vida e que tendem a ser critérios mediante os quais se julgam factos e acções. Apontam um caminho para esses fins que implica uma aceitação: para muitos, esse desafio é real e absoluto, para outros tal desafio passa por uma auto-determinação da sua vida.

1:32 da tarde  
Blogger David Soares disse...

Caro João,

Obrigado pela dica.

1 abraço

1:33 da tarde  
Blogger David Soares disse...

Cara(o) MJP,

Parece-me que um dos motivos pelos quais se luta pela liberdade é conquistar o direito de escolha, a ter ou não futuro.
O uso da liberdade é um direito de liberdade alcançado.

1:42 da tarde  

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