Os "novos pobres"
O que é interessante constatar é que em relatórios sobre a pobreza não são consideradas as realidades paralelas de pobreza, outras formas de se ser pobre, que acabam por não constituir manifestações exteriores de pobreza tão evidentes como as normalmente referenciadas, não sendo, assim, alvo de objecto de estudo. A “nova pobreza” é um fenómeno que se apresenta afectando principalmente a classe média que trabalha por conta de outrem ou que possui pequenos negócios.
Para que este fenómeno tivesse lugar, o Estado previdência, modelo social de assistência mútua, baseado no princípio da solidariedade de todos e arquitectado em volta da capacidade contributiva dos cidadãos, por razões de conjuntura e de estrutura, entrou em ruptura e como qualquer corpo agonizante debate-se e luta afincadamente pela sobrevivência, consumindo as energias, ou seja, as magras poupanças dos contribuintes mais “à mão de semear”.
Não se prevê, dentro do actual quadro politico-partidário, uma grande preocupação com este fenómeno que, face à falta de alternativas, não atinge necessariamente aqueles a quem comummente apelidamos de pobres, uma vez que estes não pagam a crise pois nada têm. É a classe média, que caminha a passos largos para a pobreza, que paga a factura das políticas erráticas dos sucessivos governos desde 74.
Daquilo que me pude aperceber, o novo orçamento de Estado parece ser rigoroso na despesa mas investimentos faraónicos continuam a existir e a questão coloca-se: quem é que os paga? Enquanto faltarem alternativas políticas para evitar o crescimento desta “nova pobreza” que emerge na nossa contemporaneidade, o futuro apresenta-se com muitas reservas.
É certo que a pobreza não se confina a uma mera falta de dinheiro, incidindo também na falta de acesso às necessidades que conferem dignidade na vida portuguesa. Portugal é o país da União Europeia onde há mais desigualdade social, onde é maior o fosso entre ricos e pobres, o que é característica dos povos em vias de desenvolvimento.
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