Parece que Portugal devia ter usado a Presidência da UE para receber o Dalai Lama. Eu estimo a intenção e estimo muito o Dalai Lama. Estimo incomparavelmente mais do que ao brutal governo comunista e ateu chinês que persegue protestantes, católicos, budistas vários.
Mas os meus desgostos não impedem que me dê conta de alguns problemas com esta esta tese. Primeiramente, acho ridículo que as mesmas vozes (em bloco) que criticam que o Santo Padre seja recebido com as honras de Chefe de Estado que lhe são devidas e universalmente reconhecidas, venham depois reclamar para o Dalai Lama recepções oficiais que ele nem pediu (com o Presidente da República) ou que não têm qualquer justificação pelo seu estatuto - visto que ele não é reconhecido por ninguém como Chefe de Estado (nem estritamente o reclama.)
Logo de seguida, apareceu o bom exemplo da chanceler alemã Angela Merkel, a qual recebeu o Dalai Lama. Houve notícias e comentários por todo o lado. Estranho que agora os jornais e blogues portugueses pareçam ter-se esquecido de dar o devido relevo à sequela.
O Ministro das Finanças alemão acabou de ser forçado a cancelar, no último minuto, uma visita oficial à China, em que seria acompanhado de empresários alemães, depois de ter sido informado que afinal o seu homólogo chinês não o poderia receber como estava previsto.
Valeu a pena? O Tibete foi liberatado? A China mudou de política? Parece que não. Nem acredito que o faça em resposta a pressões externas públicas e abertas numa questão em que a prioridade de Pequim é precisamente marcar a soberania nacional chinesa.
Os riscos de uma política externa errática ao sabor dos humores populares, das causas do momento, sem noção do quais serão os custos e benefícios seria especialmente penosa para um país como Portugal. As boas intenções não bastam, são precisas boas políticas, boa diplomacia, bom-senso. Os direitos humanos, os valores e os interesses portugueses não merecem menos.
11 Comments:
Por favor exterminem o Lama. Já não há paciencia para o gajo. A única actividade politica que faz é ser "recebido". Até parece o JP II. Além disso a independencia do Tibete é assim tão importante?
Quem acha que a única actividade política do Dalai Lama é o ser recebido, então devia informar-se e aprender sobre o seu papel no governo tibetano no exílio.
Quem pergunta se a independência do Tibete é assim tão importante, então devia informar-se um pouco mais para descobrir que o Dalai Lama já nem pede a autodeterminação tibetana, apenas autonomia alargada.
Já agora, seria interesse ter um registo da opinião do Jorge Lopes sobre a independência de outros países ilegalmente ocupados e palco de violações dos Direitos Humanos. Casos como Timor, por exemplo: afinal, a liberdade dos timorenses é uma coisa assim tão importante? Ou falar sem saber minimamente do assunto é o que se chama «perder uma boa oportunidade para estar calado»?
Diga-me então qual é o papel do lama nesse " governo tibetano no exílio"?
Não compreendo a pergunta!? Timor é já uma nação livre e independente. E felizmente tem petroleo...
Sobre "perder uma boa oportunidade para estar calado", recomendo-lhe que vá mandar calar a sua familia ou quem o estiver para aturar. Afinal o que se espera de alguem que nomeia como filmes favoritos: Aeroplano I e II Naked Gun I II e III e tem como interesses: "Folclore mitos e religiões antigas Praia" ?!?!?!?!
Basta consultar a página oficial do Governo Tibetano no Exílio para se encontrar em resposta à sua pergunta e descobrir que o Dalai Lama exerce as funções de chefe de Estado, além de nomear três deputados para a Assembleia no Exílio e ter sido ele um dos arquitectos das estruturas políticas, sociais e religiosas tibetanas no exílio. O trabalho político do Dalai Lama é "interno" e também externo à comunidade tibetana. Se tudo o que o Jorge Lopes vê são as fotografias de apertos de mãos a líderes europeus, a culpa é apenas sua.
Sobre o caso de Timor, o próprio Jorge já deu a resposta à pergunta: "já é uma nação livre e independente". "Já é" porque em tempos não foi e, se passou a sê-lo, não foi porque se perguntou em jeito de conclusão porque é que a independência timorense era "assim tão importante". Se é legítimo para um país ilegalmente ocupado e vítima de violações dos Direitos Humanos aspirar à sua autodeterminação, não há motivo para que outro na mesma situação não tenha a mesma aspiração. E petróleo, acrescente-se, é coisa que países de maior ou menor dimensão que Timor não têm e não é por isso que deixam de ser Estados economicamente viáveis.
Quanto aos meus gostos cinematográficos, nada têm a ver com esta questão e em nada interferem com a capacidade de levar a cabo uma pesquisa tão simples quanto o encontrar e ler páginas como esta:
http://www.tibet.com/
Uma vez mais, perdeu uma boa oportunidade para estar calado.
Caro Helicóptero e Caro Jorge Lopes
Uma discussão interessante e informada, embora divergente (entre si e comigo).
Parece-me pouco "budista" e pouco "tibetano" mandar exterminar ou calar um ou outro, mesmo que seja uma força de expressão, se fosse levado a sério acabava-se a conversa.
O Dalai Lama dirige um auto-denominado governo no exílio, que representa a comunidade no exílio e tem claro apoio em faixas importantes da população tibetana no interior da China (veja-se os riscos que correm ao manifestar esse apoio). Mas não é reconhecido por nenhum Estado - embora a Índia lhe conceda na prática uma voz na gestão da numerosa comunidade de exilados tibetanos.
Os representantes timorenses também não eram recebidos como Chefes de Estado ou de Governo antes da independência, nem Portugal nunca reclamou isso.
Mais, o Tibete não era reconhecido como um Estado independente antes da invasão das tropas comunistas, nem era território português como Timor continuou a ser formalmente e assim reconhecido por uma parte importante da comundidade internacional até à independência.
Claro que o Estado português deve deixar claro ao Estado chinês que deve respeitar os direitos humanos dos tibetanos e dos chineses Han. Mas insistir na independência e em conceder ao Dalai Lama um estatuto de chefe de Estado só se arrisca a complicar a questão. O próprio Dalai Lama, depois de hesitações várias, tem mais recentemente procurado levar a China a adoptar no Tibete algo parecido a Hong Kong e Macau, "um país dois sistema" em que a China vê a sua soberania reconhecida e controla a segurança e política externa, mas deixa a população organizar-se livremente na política interna.
Essa parece ser a solução mais realista e para ele, discretamente, talvez, Portugal possa contribuir qualquer coisa. Discretamente. Desse ponto de visto um encontro com diplomatas portugueses longe das vistas do público poderia até interessar à China, mas não o espetáculo para os jornais.
Bruno C Reis
Caro Bruno Reis,
Não levantei nunca a questão de se o Dalai Lama devia ou não ser recebido com honras de chefe de Estado ou se o governo tibetano no exílio é reconhecido por algum país. Tudo o que disse a esse respeito foi em resposta ao Jorge Lopes quando ele afirmou que a única actividade política do Dalai Lama era ser recebido no estrangeiro. Ora, independentemente do grau de reconhecimento, o facto é que ele é líder político e espiritual de uma comunidade no exílio com orgãos de poder estruturados e funcionais e que são uma referência não só para os tibetanos em diáspora, como também os que habitam ainda no Tibete, o que fala pelo seu trabalho político para lá das recepções oficiais no estrangeiro.
O exemplo de Timor, e recordo que surgiu pelo desejo de saber a opinião do Jorge Lopes, serve para ilustrar a pouca moralidade de um país que andou anos a chamar a atenção e a pedir a intervenção internacional em defesa de um território ocupado - porque Portugal nunca disse que resolvia o assunto sozinho - para agora surgirem pseudo-argumentos como «a independência é assim tão importante?» quando já não se trata dos timorenses e mesmo que o Dalai Lama já nem a autodeterminação peça.
Quanto a perder oportunidades para se estar calado, é mesmo isso: ou bem que a pessoa informa-se antes de falar, ou evita mandar piropos como "única actividade política que faz é ser "recebido". A liberdade de expressão é um bem precioso, mas convém que seja exercido com responsabilidade suficiente para falar com um mínimo de conhecimento ou, na ausência dele, perguntar como deve ser.
Estou calado como o sr. mandou.
P.S. - também gosto muito de folclore.
Obedientemente um seu servo.
Pára de mandar postas de bacalhau ó Bruno!!!!
Bruno,
O Governo Alemão já sabia que isto ia acontecer. O "represália" chinesa não foi nenhuma surpresa.
E penso que a atitude alemã valeu a pena.
É bom que os regimes ditatoriais percebam que os direitos humanos não são um assunto interno de nenhum país; são um tema universal.
Politica externa errática é a de Portugal; uma politica de onde se fica com cuecas mijadas cada vez que um ditador rosna ou franze o sobrolho.
Claro que é mais fácil para uma Alemanha, com o peso político e económico que tem, ignorar a pressão da China e receber o Dalai Lama. Daí, é um pouco injusto apontar a Portugal o exemplo alemão.
Acho contudo que se justifique receber o Dalai Lama, o que significa contribuir por manter viva na agenda mundial a opressão em Tibete, tal como a opressão em outras regiões no mundo. A questão se isto surte um efeito palpável hoje, amanhã, daqui em vinte anos ou talvez nunca, não anula a necessidade de tentar.
Há outro aspecto importante. É fundamental que os regimes opressores aprendam que pressões sobre paises do "mundo livre" para ignorar os seus crimes contra os direitos humanos, não resultam! Se para além da Alemanha, outros, como por exemplo os EUA fizeram, simplesmente ignorassem este tipo de pressões, quero ver quanto tempo a China vai cancelar reuniões de negócios com eles.
Acho deveras peculiar esta teoria de que o papa deve ser recebido oficialmente devido a tratar-se de um "chefe de Estado".
Quer isto dizer: nenhum líder religioso deve ser recebido oficialmente, a não ser aqueles que, por quaisquer truques ou milagres, tenham conseguido ser chefes de um "Estado" qualquer, por artificial e pequenininho que esse "Estado" seja.
Francamente, Bruno! O papa é recebido em Portugal como líder da igreja católica. Não como "chefe de Estado" do Vaticano.
LL
Enviar um comentário
<< Home