Enquanto os meios de comunicações enchem o ar e os papéis com megabytes e rios de tinta sobre o desaparecimento da pequena Madeleine que nada acrescentam ao caso nem esclarecem os equívocos gerados entre portugueses e britânicos, jornalistas e polícias, a entrevista de Joe Berardo à SIC Notícias, na quarta-feira passada, vai caindo no esquecimento. Convém lembrar que o conhecido homem de negócios e mecenas acusou Jardim Gonçalves, a figura cimeira do maior banco privado português de «fraude de colarinho branco.» E acrescentou: «a polícia e a CMVM têm de levar isto a sério. Isto não pode acontecer.» Na edição do dia seguinte, o Público noticiou que os advogados de Jardim Gonçalves estavam a estudar uma gravação da entrevista para decidir se avançavam ou não com um processo. É tudo. Se os advogados de Jardim Gonçalves decidirem não avançar com um processo contra Joe Berardo, os portugueses ficam sem saber quem é mentiroso, desonesto ou irresponsável: se o fundador do maior banco privado português, se o homem que convenceu o Estado a alojar a sua colecção privada de arte no Centro Cultural de Belém.
Não percebo nada da guerra interna do BCP e suspeito, com irritação, não haver nada inteligível senão uma birrenta luta pelo poder que expõe o sistema financeiro português a riscos desnecessários. Percebo ainda menos a atitude do Ministério Público, que teve em conta as declarações de Carolina Salgado para investigar Pinto da Costa e ignora as declarações de Joe Berardo. A não ser, claro, que a credibilidade de Carolina Salgado seja superior à do quarto maior accionista do BCP.
Etiquetas: BCP, Joe Berardo, País das Maravilhas
2 Comments:
De birrenta esta luta não tem nada. A motivação é muito mais complexa e tem a ver com um singelo pormenor: dinheiro. Sobre o sistema financeiro português... bom, qual é o perigo que pode acontecer ao sistema financeiro? Estamos a falar de Bancos que são suportados por empresas de construção e outros que lavam dinheiro?
A Carolina Salgado pode não ser da Opus Dei, mas de qualquer modo a sua palavra vale tanto como a do jardim gonçalves.
Pelos vistos não percebeu o meu post e eu também não percebi o seu comentário. O que confirma a minha ideia de uma história muito embrulhada. Diz que a motivação «é complexa» e tem a ver com um «singelo pormenor: dinheiro.» Não será isso uma contradição? Eu percebia uma luta interna no BCP entre duas posições que representassem duas estratégias diferentes para atingir objectivos do BCP no sector financeiro. Ou até que representassem «duas culturas empresariais» distintas. Tanto Jardim Gonçalves como Paulo Teixeira-Pinto são do Opus Dei e, do que eu tenho lido, não têm um pensamento estratégico muito diferente. O que está em causa é apenas uma luta pelo poder no BCP. Que está a desgastar a imagem do banco com episódios absurdos como a falha informática que impossibilitou a assembleia geral. Este desgaste de imagem no maior banco privado português não é nada bom. Não percebo a que propósito é que vem a pergunta sobre os bancos suportados pela construção e outros que lavam dinheiro. O risco, além dos de imagem, são no mínimo de instabilidade com a possibilidade de OPAs hostis.
Eu não comparei a palavra de Carolina Salgado com a de Jardim Gonçalves, mas com a de Joe Berardo. As acusações de Carolina Salgado sobre Pinto da Costa deram origem à abertura de um processo pelo Ministério Público. As graves acusações de Joe Berardo sobre Jardim Gonçalves não são levadas a sério, como se o quarto maior accionista do BCP fosse um inimputável. É absurdo. Num Estado de Direito ninguém está acima da lei, ainda por cima com a projecção pública e as responsabilidades de Joe Berardo.
Enviar um comentário
<< Home