A
defesa por Saramago da fusão de Portugal e de Espanha numa «Ibéria» causou visível irritação patriota. A publicação, há mais de vinte anos, da
Jangada de Pedra parece que foi recebida sem grande polémica. Saramago ainda não era Nobel, ainda não tinha deslocalizado a produção literária para Lanzarote. Era apenas um entre muitos outros escritores, distinguindo-se por
Memorial do Convento e
O Ano da Morte de Ricardo Reis terem saído há poucos anos e ser um autor em fase ascendente. Mas outra razão pesava para que
Jangada de Pedra fosse recebida com benevolência. Uma década após o fim do PREC e um ano depois da assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE, o romance era o esboço de uma utopia geopolítica em alternativa ao capitalismo que nos chegaria inevitavelmente da Europa. A Península Ibérica descolava-se dos Pirinéus e lançava-se ao Atlântico, rumo a uma América Latina onde ainda era o socialismo revolucionário ainda parecia possível.
Hoje um Portugal província de Espanha seria apenas menos Portugal, igual Europa, igual ou mais burocracia, talvez ainda menos utopia, certamente mais «Hola». Em vez de um Presidente da República teríamos uma monarquia ibérica. A discussão do relacionamento entre Lisboa e Madrid centrar-se-iam nas inclinações sentimentais que poderiam unir os filhos de Filipe e Letizia aos filhos de D. Duarte e D. Isabel Herédia. Uma consequência prática destas especulações seriam os nossos candidatos a Rei deixarem cair o «D.» para os seus nomes ficarem melhor nas capas da «Hola», criando uma imagem mais leve, mais informal, enfim, de agrado peninsular.
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