Não sei se este discurso resulta no Ocidente - esta defesa dos valores familiares (uma mãe de família na tropa, como é que é possível?!), o ataque ao racismo e à duplicidade de critérios ocidentais, uma libertação misericordiosa para marcar o aniversário do Profeta Maomé e a Páscoa cristã - mas no Médio Oriente toca todos os pontos certos.
Alguns pontos de sublinhar:
O Presidente do Irão procura assim mostrar que o discurso dos valores não é monopólio do Ocidente.
As fronteiras marítimas são sempre difíceis de definir. Ninguém sabe onde fica a fronteira no
Shatt al-Arab (até o nome é disputado entre o Irão e o Iraque, quanto mais a fronteira). Portanto não parece ser por isso que os fuzileiros e marinheiros britânicos foram emboscados.
Tudo indica que esta foi uma operação iraniana preparada e tornou-se mais um elemento numa guerra de propaganda e de numa guerra secreta que se tem intensificado desde o início do ano. (Com atentados por grupos armados anti-regime no interior do Irão; a fuga ou rapto de um dos principais líderes do Guardas Revolucionários para o Ocidente; a morte suspeita de um cientista nuclear iraniano; a prisão de diplomatas/espiões iranianos no Iraque pelos EUA; a prisão de um homem de negócios/espião norte-americano no Irão; a actividade de milícias xiitas no Iraque). Aliás, pode ser que em breve alguns destes espiões/diplomatas iranianos acabem por ser libertados (por acaso, claro). Será interessante nos próximos dias tentar perceber se houve algum que tipo de contrapartidas diplomáticas ou outras (afinal Blair falou nestas 48 horas como sendo decisivas, deve haver alguma razão para isso).
Esta humilhação britânica mesmo em cima dos 25 anos da vitória na Guerra das Falklands/Malvinas vem sublinhar as consequências negativas da opção de Blair alinhar com os EUA no Iraque. E claro enfraquece ainda mais a posição do Primeiro Ministro britânico nesta retirada de cena.
É bem possível que o Presidente Iraniano e os Guardas Revolucionários tenham sido forçado a apressar a libertação pelas correntes mais moderadas, ou pelo menos mais realistas. Por homens como o Secretário do Supremo Conselho de Segurança Nacional
Ali Larijani - que ontem assumiu um maior protagonismo na questão - directamente dependente do Líder Supremo Ayatollah Khamenei: o homem que realmente manda no Irão (sobretudo nestes assuntos). O Presidente do Irão ter-se-ia limitado a dourar a pílula?
Pode ser. Mas alguns pontos fundamentais ficam mais uma vez sublinhados. A capacidade de resposta e retaliação do Irão. A incapacidade do Ocidente para forçar uma mudança de política externa ou nuclear - para não falar em mudança de regime - no Irão sem custos significativos. A Grã-Bretanha, quando está em apertos, subitamente lembra-se da utilidade da UE. O Irão quer ter a atenção e o respeito que considera ser-lhe devido como uma grande potência.
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