quinta-feira, abril 19, 2007

Eleição ou Deseleição em França?


No próximo fim-de-semana são as presidenciais em França. Os franceses e as francesas - sempre prontos a revoltarem-se contra um Estado que ao mesmo tempo divinizam e culpam de todos os males (onde é que eu já ouvi isto); provavelmente convencidos de que ninguém é suficientemente bom para mandar neles - preparam-se para escolher o seu próximo chefe de estado. Ou isso, ou então para votar em quem, destes três - Royal, Sarkozy e Bayrou - os irrita menos. Nessa perspectiva Bayrou pode ter hipóteses, se passar à segunda volta. Foi assim que Le Pen foi deseleito e Chirac acabou presidente à falta de melhor.

Mas nem tudo é mau. Pelo menos desta vez Le Pen parece afastado da corrida. Pelo menos a aposta na Europa parece ser uma prioridade para os três candidatos com hipóteses de ser eleitos. Todos se afirmam determinados a desbloquear, seja como for, o processo de reforma da UE que o mal-azado referendo francês paralisou.

O problema poderá ser a abundância de promessas eleitorais inatingíveis, contraditórias, impeditivas de reformas de fundo, possível rastilho duma ainda maior crise económica e contestação social. E quem pense que a sorte económica da França nos deve deixar indiferentes está bem enganado. A Eurolândia pode muito em relação a Portugal, para o bem e para o mal.

O meu voto? Entre Bayrou, o "jesuíta", como foi carinhosamente apelidado pela delicada enarca Ségolène, e esta última, o meu coração balança (ou talvez não). Até posso ter dúvidas quanto à competência, e, sobretudo, quanto à coerência do programa de Ségo. Mas ela não abunda nestas eleições. E eu sou um feminista coerente, defendo, portanto, que o verdadeiro critério da igualdade não é ver uma mulher competente a exercer um cargo importante, é ver até uma mulher incompetente a fazê-lo. Além do mais, não é irónico que seja comum nas "conservadoras" monarquias ver senhoras a exercer a suprema magistratura, e que seja nas "progressistas" repúblicas que isso quase não sucede?
A Marianne foi durante tanto tempo um bom símbolo da República Francesa precisamente porque não passaria pela cabeça de ninguém confundí-la com uma pessoa real. A política era para os homens. Mas pode ser que isso esteja a mudar. O que deixará os homens mais libertos para as coisas verdadeiramente importantes. Imagino algumas leitoras mais preconceituosas a aventar logo: o futebol, os automóveis. Mas não é necessariamente assim, Bayrou, por exemplo, interessa-se muito pela criação de cavalos.

A SEGUIR: Os postes do Pedro Magalhães no Margens de Erro.
IMAGEM: Entrada Marianne na Wikipedia.

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2 Comments:

Blogger Susana Nunes disse...

Não tenho tanta certeza que Le Pen esteja fora da corrida. Afinal, comparando com as eleições anteriores, ele está com a mesma percentagem nas sondagens e continua a não haver muita gente que tenha coragem de assumir que vai votar Le Pen.
Há também que lembrar que ele está numa posição favorável em relação aos restantes candidatos. Basta-lhe manter a mesma percentagem de votos que obteve nas eleições anteriores para estar na segunda volta, pois desta vez os votos estão repartidos por quatro candidatos principais e não três. Não me parece que quem votou Le Pen tenha ficado satisfeito com a prestação de Chirac, por isso, é provável que o voto se repita, principalmente numa altura em que ainda há tantos indecisos (42%).

10:24 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Cara Susana

Parece-me que avança bons argumentos, nomeadamente a questão da tendência para subestimar o voto em Le Pen. Veremos no domingo.

9:59 da tarde  

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