sexta-feira, novembro 03, 2006
Mais uma eleições para o Congresso dos EUA. Toda a Câmara dos Representantes, e um terço do Senado estão em disputa dia 7 de Novembro. A maioria do Partido Republicano de Bush está em questão, os democratas aparecem em vantagem nas sondagens. Mas para além do resultado final das eleições que conheceremos na próxima semana, há duas outras questões fundamentais.
A primeira, aparentemente vulgar, é: será que as sondagens estarão certas ao indicar uma vantagem para os democratas? Ela adquirem, no entanto, e neste contexto um sentido dramático. A forma como a imprensa norte-americana tem colocado a questão é a de saber se Karl Rove vê (ainda mais) reforçado o seu estatuto de génio da política eleitoral americana e de eminência parda por detrás do sucesso de Bush. Será Rove, o principal assessor político de Bush, capaz, mais uma vez, de bater as sondagens e os padrões de votação normal em que se baseiam? (O partido no poder em tempo de guerra sempre teve perdas significativas nas eleições para o Congresso). Nas presidenciais de 2000 e 2004, Rove mostrou ser capaz de produzir mais votantes do que era costume a partir de um determinado nível de intenções de voto. Mobilizava a sua base, e imobilizava a base alheia como ninguém. Será que desta vez simplesmente não há eleitores potenciais suficientes para mobilizar? Se Rove falhar a sua queda do pedestal poderá ser dolorosa: as eminências pardas sempre fizeram muitos inimigos e os génios também. Se, contra todas as expectativas, conseguir reduzir ou até inverter a vantagem do Partido Democrata, Rove dourará ainda mais o seu brasão e reforçará o seu poder (e dos elementos mais conservadores) no seio do Partido Republicano.
Mas qual o impacto na política externa destas eleições? O que é que o resto do mundo tem a ver com isto? O peso dos EUA tornam evidente que alguma coisa. Mas mudanças radicais na política externa, controlada essencialmente pelo presidente, dificilmente estarão na mesa. Porém, sobretudo se os democratas recuperarem o Senado, que tem algum poder e credibilidade ao nível da política externa, alguma coisa mudará. Até porque os próprios republicanos irão pressionar Bush a modificar alguma coisa, para evitar um novo desastre eleitoral daqui a dois anos. Dois pontos parecem evidentes. A pressão para substituir o elemento mais impopular da administração - Donald Rumsfeld - iria crescer. (Há um ou dois substitutos óbvios - James Baker III, ou até o «independente» Joe Libermann, se for reeleito para o senado - mas há que contar com o lealismo cego de Bush). Iria crescer também a pressão para o essencial das forças norte-americanas saírem do Iraque o mais cedo possível. Só assim se poderia evitar que a sua sombra se projectasse sobre as novas eleições daqui a dois anos. Já assistimos, aliás, uma cedência neste aspecto crucial com o anúncio, do comandante e embaixador norte-americanos no Iraque, da intenção de fazer uma retirada significativa de tropas num prazo entre 12 e 18 meses. Numa, tão evidente quanto desesperada, tentativa de ganhar votos nestas últimas semanas, o líder republicano no Senado, Bill Frist, veio juntar-se a Mário Soares, e defender que era preciso negociar com os talibãs no Afeganistão, oferecer-lhes lugares no governo, por forma a evitar a derrapagem da situação para algo parecido ao Iraque.
No dia 7 veremos. Quanto ao impacto em Portugal, a única coisa realmente interessante será ver como reagirão os nossos pró-americanos primários.
1 Comments:
Apesar de pró-americano primário, e pró-Bush ainda mais primário, considero, como tu lucidamente o fazes, que caso os democratas ganhem no dia 7 os EUA e o mundo acordarão a 8 completamente diferentes. Só por causa disso, devia fazer qualquer coisa radical. No entanto, como no dia 7 cumpro 41 anos, sou capaz se passar incólume a derrota. Aliás, quem, como eu, aguentou Carter e Clinton como presidentes, certamente suportará facilmente uma maioria democrata no congresso a partir do dia 8.
Quanto aos talibans, ao Soares e ao outro, achei muito bem. Aliás, se esta moda da negociação dos terroristas pega, ainda me faço um. Será a melhor forma de ganhar respeitabilidade e aceder à governação do meu país.
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