sexta-feira, novembro 03, 2006

Morte do imperialismo, Anúncios exagerados da morte do Ocidente

O Fernando Martins em boa hora chama a atenção para um interessante artigo do Niall Ferguson, que surgiu na Foreign Policy, e até na Vanity Fair! Com isto, além de consolidar a sua reputação como o Cary Grant da história mediática - e digo-o com toda a simpatia por quem sempre foi muito amigável nas vezes que nos cruzámos - Ferguson procura mostrar que o poder imperial de tipo tradicional é cada vez mais difícil de exercer no mundo actual. Os 500 anitos do império português (de que ele desta vez não se esquece, o que só mostra que as minhas críticas tiveram um efeito benéfico) são portanto excepcionais. E daqui se deverá deduzir logicamente que a nossa descolonização é ainda mais tardia do que se pensava. Espero que isso ajude a nossa direita irredenta a consolar as suas mágoas de império.

Já quanto à morte do Ocidente, parece-me obituário algo apressado. Ferguson diz algo evidente: o poder está cada vez mais disseminado pelo Mundo. Está inevitavelmente, portanto, cada vez menos concentrado no Ocidente Europeu e Norte-Americano como (anormalmente) sucedeu durante quase 600 anos. Mas anunciar a morte do Ocidente significaria pensar que a Europa e os EUA passariam a ser completamente irrelevantes (ou inexistentes?) no palco mundial. Não só estamos longe disso actualmente, como, precisamente porque é cada vez mais difícil construir impérios, não há razão para pensar que, por exemplo, a China vai dominar o Mundo. Os EUA podem perfeitamente continuar a pesar muito. E quanto à Europa, o nosso papel será inevitavelmente mais pequeno do que no passado, mas só será realmente irrelevante se falharmos as opções económicas e institucionais fundamentais para o futuro da União Europeia.

3 Comments:

Blogger Fernando Martins disse...

O nosso império durou, presumindo que acabou em 1975, mas podemos alargá-lo ao início do século XXI, com a desgraçada independência de Timor-Leste, 560 anos (tendo começado em 1415 com a conquista de Ceuta). Se s descolonização tivesse ocorrido no início da década de 1960 teria durado, mais ou menos, 545 anos. Ou seja, o adiamento da descolonização prolongou muito pouco a nossa presença em África, embora qualitativamente, há que reconhecê-lo, tenham sido muito importantes. Só assim foi possível, por exemplo, construir um conjunto de infra-estruturas que, de outro modo, nunca teriam existido - para mal dos pobres colonizados.

8:51 da manhã  
Blogger Jota disse...

Bruno, qual é a tua definição de Império?
Definimos um império apenas do ponto de vista político? Militar? Económico ou Cultural?

São estas 4 opções misturadas?

9:11 da manhã  
Blogger bruno cardoso reis disse...

João, as definições são várias. E uma das questões mais discutidas é a de saber se poder hegemónico ou dominante é a mesma coisa que império ou não. Sendo evidente que pelo menos em certas áreas o poder dos EUA é actualmente predominante.

Também é evidente que a etiqueta imperial deixou de fazer parte da linguagem oficial dos Estados. Mas os impérios historicamente revestiram-se de formas e nomes muito diferentes. Para mim o que é interessante é ver íntelectuais neo-conservadores norte-americanos muito influentes usar o termo e reclamar esse papel para os EUA. E não se trata simplesmente de defenderem um predomínio vago, mas de recusar para os EUA as regras normais do sistema internacional, por exemplo, concedendo-lhe o direito de intervirem onde entenderem e mudar os regimes que lhe desagram. Portanto, mesmo numa definição mais restrictiva de império - que implicará não apenas influenciar decisivamente a política externa de um Estado vassalo mas determinar a sua política interna -parece-me que tem cabimento usar o termo em relação aos EUA. A novidade e também a grande contradição e dificuldade é que se trata, supostamente, de um império temporário e libertador. O que será talvez difícil de conciliar.

3:13 da tarde  

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