Bruno, se achas que foram felizes as declarações de Jorge Pedreira, estás no teu direito. De qualquer modo, quero recordar-te que Jorge Pedreira foi um lúcido dirigente do ainda vivo Sindicato dos Professores do Ensino Superior, sendo que na altura usava linguagem exactamente idêntica àquela que tu Bruno, agora e sempre, não gostas de ver na boca da generalidade dos dirigentes sindicais. Recordo igualmente que quando Durão Barroso assumiu a chefia do governo, Jorge Pedreira andou a percorrer várias capelinhas oferecendo-se insistentemente para dirigir a Biblioteca Nacional – a coisa transpirou para os jornais e Eduardo Prado Coelho fez-se o mais militante dos seus apoiantes nas colunas do Público. Meses antes Jorge Pedreira fora secretário de estado da Educação no último e saudoso governo de António Guterres. Estamos por isso esclarecidos quanto ao carácter da personagem e às suas excepcionais qualidades políticas.
Quanto à tua tese de que ou bem que temos Sócrates e este governo ou o caos, devo dizer-te que a acho absolutamente original. Aliás, a bondade deste governo está patente em tudo, mas em particular na sua (in)capacidade para travar a despesa pública em termos absolutos e na total (in)disponibilidade revelada para pôr fim ao aumento de impostos. A natureza do estado português está realmente cada vez mais irreconhecível. Vamos ver onde é que a coisa pára. Porque vai parar. Resta saber como e quando.
P.S.: Quis o acaso que este fosse o post 600 do amigo do povo. Quem diria?
7 Comments:
"a bondade deste governo está patente em tudo, mas em particular na sua (in)capacidade para travar a despesa pública"
O Fernando certamente percebe que, para travar a despesa pública, como seria e é exigível, este governo, ou qualquer outro, teria que fazer reformas muito mais brutais, e muito mais dolorosas, e muito mais desrespeitadoras dos direitos adquiridos, do que aquelas que tem andado a fazer.
Criticar as reformas que este governo tem andado a fazer e, ao mesmo tempo, exigir que ele trave a despesa pública, é contraditório.
Luís Lavoura
Luís Lavoura,
No que é que se baseia para afirmar que as reformas deste Governo têm reduzido a despesa pública? Ficava muito mais descansado se isso, de facto, acontecesse.
O problema da despesa pública é, acima de tudo, político é a crise de um modelo: o estado laico à francesa que é consubstancial ao próprio regime. Pensar que é possível manter o regime e diminuir a despesa pública é pura utopia como a realidade dos sucessivos governos o tem demonstrado. O regime é estruturalmente incapaz de se reformar. Reforma-lo é destrui-lo. Temos que mudar de regime, um regime que se baseie no principio da subsidiariedade e não jacobino e, por isso, centralizador.
"No que é que se baseia para afirmar que as reformas deste Governo têm reduzido a despesa pública?"
Eu não afirmei isso. Onde é que Você vê isso escrito por mim? O que afirmei é que, para reduzir a despesa pública, um governo (este ou qualquer outro) teria que fazer reformas muito mais brutais, e muito mais desrespeitadoras de direitos adquiridos, do que aquelas que tem andado a fazer. E que a resposta negativa da população seria, evidentemente, muito maior.
Será que Você não sabe ler? Ou que só lê as entrelinhas, não lê as linhas?
Luís Lavoura
Tudo isso, Fernando, são acidentes e questões pessoais que não me interessam. Eu não me movo em política pelo angelismo e menos ainda por virtudes pessoais. O que é que interessava que Salazar ou o Cunhal fossem ambos pessoas honestas, cheias de convicções e dedicadas ao bem público?
Basta-me, em política, o mal menor. Neste caso o governo Sócrates excedeu as minhas expectativas quanto à capacidade de fazer muitas reformas difíceis, algumas inadiáveis e outras importantes. Portanto, mesmo que critique detalhes, não deixarei de apoiar o governo enquanto continuar a esforçar-se para tentar colocar o país num caminho melhor do que o anterior.
E sobretudo enquanto as oposições forem o que são. Subscrevo inteiramente observações do Luís Lavoura, e foi aliás nesse sentido que escrevi o poste anterior. Claro que se pode fazer reformas mais brutais. Mas o ponto é que PSD não as fez antes. E que se as vier a fazer vai ter de abalar muito mais os corações e as bolsas. Pretender o contrário não é sério.
"Pretender o contrário não é sério." Bruno, mas a "seriedade" interessa em política? Vamos lá ver se não nos contradizemos muito. Por outro lado, se achas que ser canalha em política não interessa nunca perceberás o "divórcio" permanente entre o "povo" e os "políticos" que normalmente não acaba bem. Finalmente, e se me permites, acho absolutamente peregrina essa ideia de que é possível e até desejável fazer política sem princípios, sem ética e sem moral. Uma coisa assim só se costuma praticar descaradamente em regimes autoritários. Mas tu lá sabes. Achas que ganhas em maturidade intelectual e lucidez política proclamar e praticar a indiferença em relação a "valores" fixando-te apenas nos resultados. Ora política é muito mais do que isso. Política não é politiquice, embora seja com ela que estamos habituados a conviver. Peço desculpa pela ingenuidade.
Só mais uma coisa. A canalhice que transborda nas declarações de Jorge Pedreira, como outras atitudes suas de político tomadas anteriormente, produziram péssimos resultados políticos. Não fosse canalha e teria sido bem mais eficaz politicamente. Ou não?
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