País das Maravilhas em Estado de Choque
O PSD parece estar a sofrer de um choque reformista. Depois de décadas em que deixou andar ou activamente promoveu o despesismo. Depois de nos ter dado o pior primeiro-ministro das última décadas (pelo menos). Agora deu-lhe para achar que o governo mais reformista das últimas décadas (pelo menos) está a reformar pouco. E (vai daí) resolveu traduzir as piores ideias estrangeiras sobre a suposta apocalipse da Segurança Social. O problema (excepto no País das Maravilhas) é que privatizar a Segurança Social é o mesmo que cometer suicídio por receio da morte. Troca-se eventuais deficit futuros por um gigantesco e absolutamente incomportável deficit no presente – o de toda a gente que deixa de contribuir para poder investir no privado. Isto torna o sistema mais seguro e sustentável? (As duas preocupações fundamentais das pessoas reais a respeito da sua reforma) A resposta é não. Porque se a economia continuar a ter problemas as poupanças e os investimentos e as reformas dos portugueses, seja no sistema público ou privado, sofrerão à mesma. E porque o Estado troca a possibilidade de deficits minimamente calculáveis e que se poderão prevenir com medidas correctivas como as que o governo veio agora colocar em vigor, por outros completamente incalculáveis. Pois alguém acredita que se fundos de pensões privados deram o berro, o Estado vai deixar os pensionistas na miséria? (Mas, claro, no País das Maravilhas do Capitalismo as pessoas todas o que querem é investir e o Estado não deixa, além de que todo o investimento será recompensado!)
A reacção da CGTP, BE e PCP a tudo isto é a de quem está tão chocado que nem se dá ao trabalho mínimo de mudar a cassete. São hoje, orgulhosamente, o verdadeiro movimento conservador em Portugal. (Algo perfeitamente natural quando se pensa na sigla CDU). Parece que o governo favorece o grande capital e tal, e prejudica o trabalhadores e tal, é tudo igual PS e PSD. (Como? Quais as alternativas? O deficit orçamental é uma conspiração capitalista? Isto perguntaria eu se não tivesse no País das Maravilhas.)
Curiosamente, Pedro Adão e Silva achou ser a altura adequada para vir defender o papel importante dos sindicatos modernos (Estou inteiramente de acordo. Mas onde é que eles andam no País das Maravilhas? Não me digam que é na CGTP e afiliados!? E, sobretudo, não me digam que também cabe ao governo fazer essa reforma!?!)
6 Comments:
Até concordo com algumas coisas deste post. No entanto, acho notável que consideres o "apocalipse" da Segurança Social ainda uma mera suposição. Já leste o que o Medina Carreira voltou a escrever sobre o assunto?
"se a economia continuar a ter problemas as poupanças e os investimentos e as reformas dos portugueses, seja no sistema público ou privado, sofrerão à mesma"
Não necessariamente. No atual sistema as reformas dos portugueses dependem somente do estado da economia portuguesa. Num sistema de capitalização, pelo contrário, o dinheiro poupado é (ou pelo menos deve ser) investido em ativos financeiros internacionais, de todo o mundo, pelo que as reformas dos portugueses passam a depender do estado da economia mundial. O que, em princípio, será melhor.
Luís Lavoura
"como é se leva os professores a fazerem um trabalho de qualidade quando só 1/3 é que podem ser recompensados com a ascensão ao topo da carreira"
Como é que se leva um sapateiro a fazer um trabalho de qualidade quando ele sabe que não ganhará mais por isso?
Resposta: se não fizer um trabalho de qualidade, a má-fama do seu trabalho espalha-se e, em breve, ninguém lhe dará mais trabalho para fazer.
O mesmo se aplica à maior parte das profissões.
Será que todos os soldados podem aspirar a tornar-se generais, desde que lutem com suficiente bravura? É evidente que não.
Num mundo finito, com uma população estável, é espúrio pensar que todos têm direito a subir na carreira.
Luís Lavoura
Luís Lavoura,
A questão não é todos os soldados poderem aspirar a ser generais. Um soldado, no tempo em que fiz a tropa, caso se notabilizasse por feitos heróicos em combate, ou noutros casos mais prosaicos, podia aspirar chegar próximo do topo da carreira de sargento - e mesmo assim tinha que frequentar um curso de sargentos em ritmo acelerado. É claro qur podia ser condecorado com Torre e Espada, e esse facto, só por si, permitia-lhe honras no seio da instituição militar que só a um chefe de Estado estão conferidas. Para que um sargento, igualmente notável, chegar a oficial, tinha que se notabilizar, e muito, para ser oficial. E o máximo a que podia ambicionar, salvo erro, era ao posto de tenente-coronel. Um sargento “normal” não chega nunca ao topo em circunstâncias “normais”. Um jovem militar que frequentasse a Academia Militar podia ambicionar chegar a coronel. Mais acima apenas uma minoria podia ambicionar chegar. Para isso tinham que frequentar os Altos Estudos Militares com aproveitamento e esperar por vagas. Diga-se de passagem que pelo menos até há uns anos havia generalato (posto de brigadeiro e de general) para muita gente, apesar da reduzida dimensão do nosso Exército. Sinceramente não me parece mal que apenas uma parte dos professores possam chegar a titulares. Não sei é porque razão deve ser 1/3 e não um 1/5, 1/4 ou 1/2. Mas acredito que a Sra. ministra saiba porquê (recursos financeiros gastos com parcimónia?). Note-se que muito menos do que um 1/3 dos professores auxiliares pode chegar a professor catedrático, sendo que no caso, e no estado em que as coisas estão, nem 1/5 pode ambicioná-lo. Há neste momento áreas em que é cada vez mais difícil encontrar um professor catedrático ou, até, um professor associado com agregação. Neste momento proliferam os professores auxiliares com agregação e nomeação definitiva. Os professores catedráticos, numa grande parte, ou morrem antes de tempo ou reformam-se e as vagas não são reabertas. Falta verba às Universidades. Mas certamente que com o aumento do orçamento do Ministério da Ciência e do Ensino Superior para 2007 as coisas mudarão a curto prazo. É que este post do Bruno fez-me ver a luz. Dantes não acreditava. Agora já acredito. Sinto-me muito mais feliz. Mais realizado. Agradeço muito a Deus o facto de ter dado a Portugal um primeiro-ministro como Sócrates. Não só por ser extraordinário, mas por estar tão próximo da perfeição. Que digo eu? Sócrates é a perfeição! Mesmo quando é imperfeito. Só falta que uns seres medíocres que insistem em fazer oposição - que digo eu? - que insistem em não acreditar, passem a acreditar. Assim Deus, Sócrates e o Bruno os ajudem como me ajudaram a mim.
Fernando Martins, exatamente. Estou de acordo. Se os professores universitários, por melhores que sejam, por mais que se esforcem, não podem chegar a catedráticos, porque é que os professores de liceu terão que poder sempre chegar ao estatuto máximo na carreira?
Como eu disse, há duas razões possíveis para que um profissional se esforce por trabalhar bem. Uma, é a perspetiva de ser promovido e de vir a ganhar mais dinheiro. Outra, é o medo de ser despedido e ficar no desemprego. Para muitas pessoas, a segunda razão é aquela que se aplica no dia-a-dia. Não a primeira.
Luís Lavoura
A teoria é muito bonita! Nos EUA realmente valoriza-se o bom trabalho, o empenho e a eficácia... mas, este é o país das mavilhas! Não é!
Aqui valoriza-se o amigo, o compadre, o familiar mesmo que seja a maior merda para aquele seviço ou trabalho. E, isto é tranversal na sociedade portuguesa!
É vê-los na televisão e nas revistas. A tecnocracia do mérito em portugal é a do "amiguismo"... e mais nada! Como dizia o outro " hà dúvidas". As excepções estão aí para confirmar a regra! Um abraço para todos... e continuem a sonhar!
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