sábado, outubro 21, 2006
Politicamente essa manifestação e esses grevistas não existem. É normal não gostar de reformas dolorosas. Mas exactamente para onde é que vão estes descontentes (e para onde querem levar o país)? Qual é a alternativa deles? Em termos de programa não têm. São contra todas as reformas por todas as razões e mais algumas. Em termos de política ainda menos. Vão votar em quem numas eventuais legislativas antecipadas? (Isto, partindo do princípio de que agora somos todos sociais-democratas, e portanto não estão a pensar tomar o poder pela força e proclamar uma Comuna ou Soviete de Lisboa.) Vão votar no PSD ou no CDS? Esses parece que acham que as reformas do governo ainda são poucas. (Embora, quiçá um pouco contraditoriamente, lá vão dizendo que sempre podiam ser feitas com mais jeitinho). Claro que há uma alternativa perfeitamente lógica: votarem no BE ou no PCP, esses partidos milagreiros que prometem reconciliar o ataque ao grande capital, crescimento económico, mais emprego, boas reformas (as dos velhinhos) e subida da despesa pública. Só há dois pequenos problemas: muitos desses manifestantes e grevistas já votarão nesses dois partidos «protestantes», e alguém (a começar pelos próprios) acredita seriamente na viabilidade de um governo PCP-BE?
Há coisas a melhorar nas reformas do Estado pelo PS? Claro. Estranho seria que acertassem em tudo à primeira, ou que fossem os primeiros governantes infalíveis. Mas o governo tem um mandato político claro para fazer essas reformas. Têm de se fazer reformas no funcionamento do Estado? Se não agora, depois de anos a atirar dinheiro para a educação, a saúde, a justiça, quando? Seria bom contar com os muitos professores, juízes, médicos competentes e trabalhadores capazes de fazer uma crítica constructiva às reformas? Seria excelente. Mas infelizmente parece que eles não existem. Se existem não se ouvem. Só se ouvem os apocalípticos do costume. E é mau: para o governo, para os sindicatos, para as ditas classes, e para o país. Mas é assim.
Pode ser que politicamente seja bom para o PS - para captar os que silencionsamente dentro do Estado trabalham bem e querem mudanças - valorizar esses professores, médicos, juízes reformistas. Mas até agora são um interlocutor em boa parte (se não totalmente) virtual. Serão uma maioria ou uma minoria, mas silenciosa, lá isso são de certeza.
ADENDA - Veja-se o que a respeito escreve António Dornelas no Canhoto.
PS - Realmente, Fernando, a linguagem de certos secretários de Estado! Aliás os sindicatos até têm particular autoridade para se queixar, os seus protestos sempre se caracterizaram em Portugal pela elevação verbal.
PPS- Já agora, talvez alguém pudesse explicar ao Jacinto Lucas Pires que "friendly fire" ou "fogo amigo" é uma ironia sangrenta, é uma coisa má, não é uma coisa boa e que se deva aceitar.
1 Comments:
O problema em Portugal é que os dirigentes associativos defendem sempre os PIORES elementos da sua classe, nunca os MELHORES. Os sindicatos defendem sempre os piores trabalhadores, e o seu direito a continuarem a ser maus. Defendem sempre os piores vícios instalados no sistema.
Luís Lavoura
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