terça-feira, outubro 24, 2006

País das Maravilhas: o Regresso do Estadista


Só num país como Portugal é que uma personagem como Santana Lopes ainda tinha tanto tempo de antena sem contraditório de alguém de bom-senso.
Sócrates no caso das ditas mentiras - veja-se a sua posição quanto às taxas moderadoras na saúde (ou do ministro Correira de Campos) - fez algo que é politicamente perfeitamente legítimo: acentuou diferenças face ao partido concorrente (que num pais como Portugal entre os partidos do governo nunca são radicais), e apontou o sentido em que veio efectivamente agir, mas sem se comprometer demasiado à partida com uma determinada solução.
Como é normal numa campanha eleitoral falou mais do positivo do que do negativo. Resistiu a amarrar-se a políticas impopulares - como subida de impostos ou outras taxas - antes de estar segura saber que elas seriam absolutamente necessários. E na certeza de que insistir nesse ponto seria politicamente suicida: teria provavelmente custos eleitorais (negar ao PS a maioria absoluta) que tornariam impossível precisamente a execução de quaisquer dessas tais reformas custosas. Enfim, fez o que faria qualquer político sensato, que era o que país ardentemente queria depois do (des)consulado Santanista. Mesmo assim foi (e é) acusado de ser um pessimista.
No programa eleitoral e no programa do governo onde é que estão (por exemplo relativamente às SCUTs) as grandes contradições? E afinal, não é este governo acusado, por vezes, de arrogância, de abusar da maioria absoluta? Se nalguns casos acede aos apelos insistentes da oposição, isso afinal está mal? Vejam lá se se decidem!

O que o PS nunca fez foi chegar ao extremos do populismo do PSD, que achou por bem propagandear, no estado em que estava a economia do país, que ia baixar os impostos! Foi o famoso choque fiscal com o qual o PSD ganhou as legislativas a Ferro Rodrigues. Foi destas famosas eleições, convém não esquecer, que veio a vaga pretensão de legitimidade legal e política que Santana Lopes poderá reclamar para ter assumido tão degraçadamente o governo da nação. Dessa mentira eleitoralmente vitoriosa, ou da sua responsabilidade pela condução errática do governo, estranhamente o estadista Santana não falou neste apelo à decência e à assunção corajosa das responsabilidades pelos políticos. Mas que outra coisa seria de esperar de um irresponsável político professional?
IMAGEM: De TMC in randomprecision

2 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

A gente pode até não gostar nada mesmo do PSL e achar que foi uma lástima como PM (para não falar em Presidente da CML, por exemplo).

Isso é uma coisa.

Outra coisa é ele ter carradas de razão nas críticas que deixou a este governo.

De facto, ninguém anunciou que ia haver portagens nas SCUTS (nem se entende como é que há zonas que eram deprimidas há ano e meio e agora deixaram de o ser e, além disso, que alternativas foram entretanto desencantadas às mesmas SCUTS), houve feroz oposição a tudo o que fosse mexer no SNS, as reformas tinham de fazer-se «com as pessoas» e nunca «contra elas», etc etc.

Lá por alguém embirrar com uma pessoa não quer dizer que essa pessoa de cada vez que abre a boca diga asneira. Como é óbvio.

7:04 da tarde  
Blogger Fernando Martins disse...

Estou totalmente de acordo com o comentário do/da anónimo/anónima leitor/leitora

7:19 da tarde  

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