segunda-feira, outubro 23, 2006
As mentiras de José Sócrates durante a campanha eleitoral – e algumas já praticadas enquanto primeiro-ministro – não corroem apenas a credibilidade do Governo, do seu chefe, e das suas políticas. Como se não bastasse, as mentiras de Sócrates acabam de ameaçar tornar Santana Lopes num político credível. Veja-se a sua crónica de hoje de manhã na TSF (em que acusou Sócrates de “batota” política por ter mentido descaradamente durante a campanha eleitoral de 2005) ou o conteúdo de uma sua entrevista à SIC – cujos excertos têm vindo a ser passados nos noticiários daquele canal e que será reproduzida na íntegra por volta da meia-noite na SIC Notícias. Uma personagem totalmente irresponsável como aquele que foi o nosso penúltimo chefe de Governo, aparece de repente com a cara lavada e com legitimidade em muito daquilo que diz pelo facto de lhe ser tão fácil provar que Sócrates ganhou as últimas eleições legislativas mentindo mais do que aquilo que seria razoável. Assim, parece óbvio que independentemente da qualidade de medidas ou reformas políticas adoptadas – do ponto de vista da sua substância ou dos seus resultados – e que podem contar com maior ou menor apoio ou com maior ou menor oposição, os portugueses se cansam dos políticos que sofrem de uma espécie de diarreia da mentira. Se a mentira com resultados ainda se consegue suportar, embora cedo ou tarde qualquer político pague por ela, a mentira sem resultados liquida qualquer um. E quer se queira quer não as políticas deste Governo ainda produziram quaisquer resultados substanciais.
Os portugueses podem gostar mais ou menos de Sócrates e dos seus ministros ou das suas políticas. Mas aquilo que nas últimas semanas mais tem contribuído para provocar a erosão da popularidade e da credibilidade deste Governo e do primeiro-ministro, ao ponto de Santana Lopes falar nela e ninguém, no seu perfeito juízo, pensar seriamente pensar em desdizê-lo, é a acusação de que Sócrates é, o fim ao cabo, um mentiroso. É a mentira e, sobretudo, a mentira sobre a mentira – a tentativa de se convencer o cidadão anónimo de que a mentira nunca existiu – que liquidam políticas e políticos. Se as coisas continuam assim, veremos quem irá dar a estocada final em Sócrates. Um qualquer Manuel Alegre, uma mais ou menos anónima Helena Roseta, um anódino secretário de Estado ou ministro, um desavergonhado Santana Lopes, um circunspecto Cavaco Silva ou um sinistro António Costa? Ou, pura e simplesmente, um OGE criminoso? As questões éticas não contam em política? As questões éticas contam politicamente quando analisamos a política dos outros. As questões éticas são tão relevantes em política já mataram muitos políticos, muitos regimes políticos e até já ressuscitaram uns e outros. Importam políticos honestos e a honestidade na política. Ainda bem que assim é. Só tenho pena que não seja mais vezes!
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