quinta-feira, março 09, 2006

Portugal Maior


Cavaco presidente, e quase nem me apercebia (luxos de viver fora). É bom ver o direitista Fernando com tanta fé na política (ou no político). Mas advinho desilusão: ou Cavaco destrói a constituição para cumprir a missão, ou se conforma e é um presidente pouco mais ou menos normal. É interessante ver o esquerdista João a considerar que Cavaco e Sócrates é tudo o mesmo. Não é, entre o estatismo bonapartista (uma velha tradição de direita) e uma esquerda reformista há uma diferença importante.

Tenho de reconhecer que mostra vontade de voltar a trabalhar, e leva a sério o mote da campanha. Quando a Espanha for na conversa digam. Ou será Marrocos o candidato ao alargamento para fazer um Portugal Maior? Em todo o caso, será negativismo mas pensava que já sobravam problemas a governar o pequeno Portugal que temos. Dito isto, é claro que desejo boa sorte ao novo Presidente, que nós bem precisamos.

4 Comments:

Blogger João Miguel Almeida disse...

«Esquerdista João» - foi preciso muito esforço para chegar aqui. Tento perceber as diferenças entre a direita bonapartista e o reformismo de esquerda do PS e é difícil.
Cavaco introduziu no sistema político português a ideia de Governar com maiorias absolutas. Um diserato que foi perseguido por Guterres e finalmente atingido por Sócrates.
Cavaco começou as privatizações - e é claro que o período revolucionário tinha deixado como herança um excesso de presença do Estado na economia. As privatizações foram prosseguidas pelo PS. Durante a campanha eleitoral Cavaco veio dizer que agora deviamos ter «mais calma» no que toca a privatizações e «não devíamos facilitar», para que as privatizações não significassem a venda a estrangeiros.
A diferença foi o rendimento mínimo garantido durante o Governo Guterres? Durante o cavaquismo Silva Peneda já tinha produzido documentos sobre o assunto. É claro que com Guterres passou a ser uma prioridade, o que eu acho bem, com a necessidade de aprender com os erros e apertar a vigilância.
A diferença é o «diálogo»? Sócrates não retomou o conceito. Cavaco não será muito sensível à defesa intransigente da liberdade de expressão em casos como os dos cartoons. Mas Sócrates e Freitas do Amaral foram ?
O problema de fundo entre Sócrates e Cavaco não será ideológico mas terá a ver com a delimitação de poderes entre o primeiro-ministro e o Presidente da República.

12:56 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

João suponho que tenhas percebido, mas just in case, "esquerdista" não era para levar muito a sério.

Que o Cavaco muda de discurso como quem muda de camisa não oferece grandes dúvidas. Mas o que ele é no fundo é um estatista ou um bonapartista: vide forças de bloqueio ou deixam-me trabalhar. Ou uma concepção referendária democracia: o povo e a oposição tinham uma oportunidade todos os quatros anos. Que eu saiba o PSD nunca aceitou qualquer proposta da oposição. O PS já várias vezes o fez, apesar de não precisar (veja-se o PCP no caso da tributação de pessoas com recibos verdes).

O problema na análise do Cavaco, e nem é especialmente o teu caso, é que parece que toda a gente acha que só há uma corrente de Direita e é a neo-liberal. Ora como tu sabes há algumas outras tradições.

Cavaco não foi social-democrata, foi social-estatista. As privatizações foram feitas numa linha de reforço do poder dele e do partido. E ao mesmo tempo pagavam um crescimento enorme, cíclico (por alturas de eleições) do Estado e dos salários para ganhar.

Isto não tem nada a ver com conseguir maiorias absolutas para conseguir a autoridade necessária para reformar o Estado, o tornar mais eficiente, e permitir que sobrevivam no essencial as suas funções sociais.

1:10 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Veremos o que sai desta coabitação. Seja como for, Sócrates apareceu no pequeno ecrã a dizer que estava «em consonância» (sic) com o discurso de tomada de posse de Cavaco Silva.
Eu até acho piada que me chamem «esquerdista». Explico-me para não ficar a rir sozinho: a primeira vez que me chamaram qualquer coisa do género - «radical de extrema-esquerda» - foi no colégio S. João de Brito quando disse a um colega que se tivesse idade para votar votava em...Mário Soares...para Presidente da República.
A verdade é que sou um moderado e se critico Sócrates ou Cavaco não é por causa das ideologias que invocam - socialismo democrático ou social-democracia - mas por causa das políticas governativas que representam.

9:29 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Mal seria que estivessem em dissonancia tao cedo. O problema e realmente que Cavaco nao devia ter uma politica governativa no nosso sistema constitucional, mas como bom bonapartista que e, provavelmente tem.

PS - A mim tambem ja me chamaram muitas coisas, entre as quais direitista por apoiar Soares. E por isso que nao levo isso muito a serio.

12:10 da tarde  

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