Redes ou Cliques, Amigos ou Inimigos
O Esplanar e o Abrupto resolveram falar da influência das cliques na cultura. É um tema useiro na sociologia e na história da cultura. E é verdade que, para não ir mais longe, nos blogues há redes de citação mútua que são fundamentais para captar leitores. É difícil ver como evitar isso. Seria bom que prevalecesse uma cultura de debate que favorecesse a diversidade de pontos de vistas, e não previsíveis alinhamentos ideológicos ou pessoais. Mas na grande rede que é a internet, redes vão existir sempre.
E confesso que fico um pouco espantado ao ver José Pacheco Pereira dar lições de bom comportamento intelectual. Ele costuma ser mais reticentes nestas questões de moralismos. E não pode ser considerado exactamente acima de crítica. Aliás, no seu mais recente poste sobre esta questão, JPP parece estar a comentar este texto do Pedro Mexia que não cita (e não sou o único a pensar que isso é assim, e não é a primeira vez).
Ao texto do João Pedro George sobre as cliques na cultura, que deu origem a tudo isto, diria que redes de um tipo ou de outro existem em todo o lado. Quando gostamos delas são cumplicidades ou correntes. Quando não, são cliques. É provável, no entanto, que tenham um peso maior ou mais negativo em países pequenos e com poucos recursos (como sublinha Pacheco Pereira).
Parece-me, no entanto, complicado pegar na questão pelo lado dos conhecimentos pessoais. Para mim, o verdadeiro problema não é existirem redes de conhecimentos nos jornais, nas revistas, na internet. Mas sim saber se funcionam de acordo com uma estreita mentalidade amiguista; ou, o que é talvez mais aceitável, mas igualmente empobrecedor, de uma canina fidelidade ideológica. É a prevalência da cultura do tempo de antena. Em que é boa prática (ensinada aos mais novos) brilhar pelo apagamento dos outros. Em que frequentemente a forma mais gabada de «ganhar uma discussão» é ignorar a outra parte. Em suma, é a ausência duma verdadeira cultura de debate.
Eduardo Pitta diz que é normal haver um quadro de comentadores ou recenseadores residentes. É por isso que se lê um jornal. Tem alguma razão. Mas também é normal convidar regularmente gente de fora – com algum conhecimento ou interesse na área relevante – a recensear ou comentar um assunto. Acho que não se perdia nada no combate a estas lógicas em ir mais por aí.
Porque é certo que é preferível ser um desconhecido (do autor) a recensear um livro, e não um amigo (corre-se sério risco de se perder a amizade ou a recensão). Mas muitas vezes, sobretudo num país pequeno, os conhecimentos são inevitáveis. E o problema não se coloca só com os amigos, mas também com os inimigos. Será que devemos, por exemplo, desqualificar o texto do João Pedro George sobre as memórias de Filomena Mónica, só porque ele deixa claro que não gosta da pessoa?
O essencial para mim é a valia dos argumentos. E também algo que em inglês tem direito a expressão própria: full disclosure, a honestidade quanto à amizade (ou inimizade) do recenseador. Aqui estou completamente de acordo com Pacheco Pereira e (creio) com o João Pedro George. O leitor julgará com conhecimento de causa. Parece-me mais complicado do ponto de vista prático, e questionável como tese, ter como intelectual ideal o tipo(a) encerrado numa torre de marfim.
João Pedro George volta ao tema em vários textos interessantes. Neste quase parece estar a responder ao que aqui escrevemos. E tem toda a razão que há uma distinção importante entre amigos e conhecidos (eventualmente por quem se tem simpatia, não raras vezes nascida da admiração pelo respectivo trabalho). Uma distinção que eu não tinha feito. Uma distinção que ele também não tinha feito.
5 Comments:
ligações perigosas.
escritores.weblog.com.pt
As polémicas, para mim, são mijas sucessivas de vários cães na mesma erva. Para marcar territórios. É giro. Faz bem aos cães. A erva detesta brincadeira, mas sobrevive. A natureza é a arte. Adeus.
Excelente, Bruno. É por estas e por outras que me sinto cada vez melhor aqui e muito desajustado noutros sítios...
O João Pedro Jorge tem a virtude ou teve a virtude mandar uma pedra para um lago de águas demasiado paradas. Só por isso, está de parabéns
Realmente, o João Pedro George, pseudo-critico, é da maior merda que há no País. Precisa colar-se aos autores famosos para se fazer notar, mas não se apercebe da podridão que essa atitude representa. Nem quero imaginar o que é que os alunos dele aprendem nas aulas: a venerar o professor por se achar o maior? É assim que ele estimula o seu ego gigante?
Pobre de espírito, é o que é.
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