quinta-feira, janeiro 26, 2006

Hamas: da Paz dos Túmulos à Paz dos Acordos?


O Hamas ganhou as eleições palestinianas. Muito por causa das divisões e da corrupção na OLP. Do voto de protesto contra a Fatah, portanto. Mas também do voto de protesto contra os EUA e Israel. Um voto realmente islamista numa Palestina relativamente secularizada seria provavelmente menor. Mas as coisas mudam. Veja-se o peso crescente dos fundamentalistas judeus em Israel.

Parece que a política norte-americana de ganhar amigos no Médio Oriente através da promoção da democracia, de eleições livres e justas, está a deparar-se com uns problemazinhos. Da vitória de islamistas no Iraque até à vitória de islamistas na Palestina é só escolher. Quem diria? Eu, por exemplo. Ou qualquer (outro) especialista de jeito na região.

Parece que a política israelita dos anos oitenta de minar o peso da Fatah nos Territórios Ocupados facilitando a expansão das redes islamistas (que vieram a formar o Hamas em 1987) pode ter resultado bem de mais.

Parece que o Hamas vai ter de decidir se quer ser sobretudo um grupo terrorista ou um grupo político. Uma transição que não é propriamente inédita no Médio Oriente. (Veja-se o caso da Israel).

Parece que o Kadima (o novo partido centrista formado por Sharon), depois do choque da trombose de Sharon, vai ter de lidar com um choque ainda maior. Mas é bem possível que os verdadeiros perdedores sejam os Trabalhistas (fazer um acordo de paz com quem?). Não me espantaria que o Likud e outros partidos (ainda mais) radicais da direita israelita beneficiam com isto. Afinal os extremos sempre se ajudaram no Médio Oriente. Claro que o falhanço dos moderados em entenderem-se lhes facilitou muito a vida.

Gosto do Hamas? Bem, mas que pergunta difícil!!! Vejamos, um grupo envolvido no ataque indiscriminado a alvos civis. A resposta é capaz de ser NÃO. Claro que o facto de muitos civis palestinianos terem sido mortos pelas forças israelitas, e (quase) todos viverem em condições miseráveis, é capaz de ter algo a ver com a epidemia súbita de terrorismo com origem nos Territórios Ocupados na última década. Não gosto da Hamas. E não gosto dos grupos e partidos de colonos israelitas que também acham que Deus lhes deu toda a Palestina, e que podem e devem fazer tudo para a manter. Fanáticos violentos nunca foram my cup of tea. Infelizmente os meus gostos ou desgostos contam pouco. Felizmente há sinais de que o Hamas está disposto a apostar mais na via política, se Israel estiver para aí virado. Embora um acordo não esteja provavelmente para breve. Uma trégua prolongada já não seria má.
PS - O mundo não é a preto e branco. Também pode ser verde. É tudo uma questão de cores, portanto.