quarta-feira, janeiro 25, 2006

Woody Allen na terra de Shakespeare

Match Point é o último filme de Woody Allen e uma tragédia passada entre a sóbria paisagem londrina e a suavidade do campo inglês. Há quem encare a obra como uma Woody Allen atípico, uma reviravolta inesperada num realizador que todos julgavam conhecer. Eu, pelo contrário, fui deparando com numerosos pontos de contacto com os filmes do autor: a referência mais óbvia é Crimes e Escapadelas (1989), que conta a história de um crime sem castigo. Mas há outras: as referências à tragédia grega já se encontram em Poderosa Afrodite. Na comédia ligeira O Alegre Conquistador há um encontro de carga erótica numa galeria de arte. Lembremos que a personagem principal deste filme, interpretada pelo próprio Woody Allen, vive na sombra do seu super-ego, Humphrey Bogart, e não se cansa de rever Casablanca nem de ouvir a cantar «a kiss is still a kiss» e «the same old story/the fight for love and glory». Em Match Point os beijos são mortais e entre o amor e a glória há uma escolha radical a fazer. Mais subtil e a denunciar alguma mania cinéfila: Luís Buñuel foi convidado a aparecer em Annie Hall, tendo recusado o convite. A história passou-se na década de 70, pouco depois do espanhol ter assinado O Charme Discreto da Burguesia – filme que mostra um assassinato com uma espingarda de canos serrados.
Muitos ficarão chocados com o facto de um cómico assinar um filme tão trágico e sombrio. Curiosamente, veio-me à memória outro filme pessimista de um grande comediante: Charlie Chaplin. Em 1947 realizou e interpretou Monsieur Verdoux, a partir de uma ideia de Orson Welles. A história de um «Barba Azul» que vai casando com mulheres ricas para assassiná-las e ficar com as respectivas heranças. O choque virá do preconceito que coloca a comédia ao nível do ridículo e atira a tragédia para o grandioso, em vez de enraizar uma e outra no absurdo da condição humana.
O filme também vale pela sensualíssima Scarlett Johansson a quem Woody Allen resolveu – e muito bem – tratar como uma mulher a sério. Também não é novidade, neste cineasta que geralmente associamos à beleza neurótica de Mia Farrow. Em Poderosa Afrodite, Mira Sorvino mostrou todo o esplendor de uma morena. Infelizmente, não fez mais filmes com Woody. Esperemos que Scarlett Johansson tenha mais sorte.

1 Comments:

Blogger P. disse...

Concordo.
Além disso, toda a ironia do filme tem um certo toque cómico! O filme é trágico, em certas partes quase parece um thriller, mas nunca chega a ser e ainda bem!
Woody Allen consegui reinventar-se sem perder o seu toque natural:)!

11:48 da manhã  

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