Vivemos um debate existencial em Portugal. Parece que a lei anti-tabaco pode levar à restauração do “regime fascista”! Será só fumaça?
Antes de responder, uma declaração de interesses – fumador ocasional me confesso, mas sobretudo passivo. Activo só de charuto (ou cigarrilha, no mínimo). É que gosto do meu tabaco saudavelmente biológico. Além disso não poderia deixar passar uma oportunidade de mostrar a minha solidariedade fair trade pelo Terceiro Mundo em geral, e Cuba em particular. Infelizmente as ocasiões de mostrar o meu exibir o meu empenho internacionalista escasseiam.
Quanto à lei. É certo que se trata de nos aproximar do resto da civilização. Uma das imagens de marca de Londres são os fumadores a decorar os beirais dos edifícios de escritório. Este é um campo em que Lisboa já pode competir com a metrópole britânica.
Sinceramente não creio que se corra o risco de cairmos no nazi-fascismo por via do anti-tabagismo. É que, por um lado, Hitler nunca foi tão longe na sua campanha contra o tabaco – portanto, quando muito cairemos em algo ainda pior. Por outro lado, já temos auto-estradas e Mercedes (outras imagens de marca do regime nazi). E se é verdade que matam muita gente, não tiveram efeitos assinaláveis (até ver) na solidez do regime democrático.
Mas que fique claro: é uma lei desnecessária e politicamente arriscada. Politicamente arriscada pois o governo deveria apreciar a elevada percentagem de fumadores compulsivos entre jornalistas e comentadores, havendo ainda que considerar o impacto orçamental da medida – menos impostos, mais reformados por mais tempo. Há ainda que considerar o impacto da medida na coligação do PS com o Bloco em Lisboa.
Sobretudo, é uma lei desnecessária. Porque também eu sou a favor de se confiar na civilidade, no bem-senso, no bom-gosto, na serenidade dos portugueses. Mas, enfim, parece que é a vez dos portugueses fumadores confiarem no bom-senso e civilidade dos portugueses não-fumadores na aplicação da lei. Nada de perder a esperança. Afinal, se o contrário funcionaria, porque não assim? Será que só os fumadores portugueses são capazes do bom-senso, tolerância, cuidado pelo próximo? Não faria muito sentido acreditar que sim.
Andaremos talvez todos precisados de miminhos. Pelo menos é que parecem dizer alguns altos responsáveis e estadistas séniores, a começar pelo Presidente da República. Mas não me parece que essa função de consolo psicológico caiba na lista de funções apropriadas de um governo democrático e liberal. Esperemos que a fumaça retórica clareie um pouco em breve, todos cuidemos mais uns dos outros e das coisas realmente importantes, e o povo serene. De um bom cigarro é talvez o que alguns precisem para serenar.
IMAGEM: Almirante Pinheiro de Azevedo declarando «É só fumaça, o Povo é sereno» durante ataque com bombas de fumo a manifestação no Terreiro do Paço (fonte: http://www.fumacas.weblog.com.pt/) Etiquetas: País das Maravilhas
2 Comments:
não percam o Inem em funcionamento de emergencia:
http://www.youtube.com/watch?v=MRDh-5aEKkg
O tabagismo está a tornar-se a cada dia um dos mais graves problemas mundiais. Estando a aproximar-se perigosamente, ou mesmo a ultrapassar, outros problemas como a fome, as guerras por motivos económicos e religiosos, a violência doméstica, a poluição global e o crime. Este gravíssimo problema está a mobilizar milhares de populares, todos os órgãos de comunicação social e governos, que sacrificam grande parte do seu preciosíssimo tempo na tentativa de encontrar uma solução que poderá passar por medidas muito drásticas, como a deportação de todos os fumadores. A verdade é que apesar do muito que se fez até ao momento, ainda estamos longe dos objectivos propostos, tendo no último concelho de ministros, devido aos parcos resultados apresentados pelo Ministro da Saúde, pelo Ministro do Interior, e mesmo pela Polícia Judiciária e Polícia Invisível de Estado, o Senhor Primeiro-ministro teve um ataque de fúria histérica, chegando a quebrar duas cadeiras a pontapé, um dedo devido a um murro na mesa e bebido um litro de chá de tília, sem se conseguir acalmar.
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