Depois de mais uma volta pelo CCB
Visitei pela primeira vez a Colecção Berardo há uns dez anos, em Sintra, no museu que foi casino, que foi sala de ensaios, que foi liceu, que foi cinema, que foi repartição de finanças. Penso que foi a esse arremedo de nostalgia áulica projectado por Norte Júnior que, também pela primeira vez, de moto próprio, sem pais, professores ou amigos mais velhos, me abalei para decidir que pensar das artes visuais e plásticas contemporâneas. Não decidi nada, claro. Até hoje, na verdade, não sei bem que pense. Cabe-me à larga a carapuça do cidadão médio que, não obstante escolarizado e sofrivelmente viajado, se sente praticamente incapaz de empatizar com autores e obras dos últimos trinta, quarenta anos. Correntes ou famílias como o pós-minimalismo, o neo-conceptualismo, a appropriation art, etc, provocam-me uma enorme sensação de vazio, por vezes mesmo de frustração. A irritação (por vezes com recurso à verbalização em voz alta) é atingida quando a falta de empenho técnico [como se diz mestria, engenho, hoje?] é evidente. De largo em largo, lá encontro obra que me desperte mais que curiosidade sensorial, como a de Bill Viola. Por isso mantenho a pretensão de achar que um não-crítico, não-académico e não-membro-do-meio há-de poder sentir-se interpelado por um objecto de arte do seu tempo. Continuarei a tentar. [Imagem: cartaz alusivo a uma exposição de videogame art, encontrado na agenda da Wooster Collective]
7 Comments:
Troquem a palavra arte por romance e leiam este post. Vejam como pode ser triste a impotencia de não apreciar arte e até achar alguma graça a isso.
Tem piada, ando há uns tempos para escrever um post a dizer mais ou menos isto. O Steiner tem uma expressão muito forte: à capacidade de a arte nos interpelar dá o nome de "answerability", a capacidade de gerar respostas (O Miguel Serras Pereira, num rasgo de génio, traduziu a palavra por "responsabilidade" nas Presenças Reais).Pergunto-me muitas vezes se não será isso que falta a grande parte da arte contemporânea.
Anónimo, continuando a perfilhar a óptica dos amadores, devo dizer que me parece a ficção literária contemporânea bem menos impenetrável que as belas-artes.
Pedro, não tinha presente essa expressão de G.Steiner. Ela de facto agudiza a questão fundamental (porque não comunicam, objecto e sujeito observador? porque o artista não quer? não consegue?).
Talvez não comunique porque não haja nada a comunicar.
Cam
Anónimo, pode ser, mas eu sou uma optimista.
ACV, eu tenho um critério simplório, pimba, básico, tudo o que quiser chamar-lhe.
É mais ou menos assim: quando deparo com uma «obra de arte» e penso "eu era capaz de fazer isto", nesse caso concluo que a coisa não vale nada, ou então "isto eu não era capaz de fazer", e nessa hipótese a coisa já poderá (ou não) valer alguma coisa.
PS- Quando digo «valer», não estou a pensar em euros nem dólares...
("a coisa valer alguma coisa" foi mesmo uma frase infeliz)
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