Via
Tiago Mendes, no blogue da
Atlântico, dou com uma extraordinária
peça de pensamento mágico, da autoria de João Pinto e Castro. A propósito da tradicional visita
ad limina dos bispos portugueses a Roma, o autor exprime a sua preocupação com uma eventual "conversa de surdos" havida entre o episcopado luso e o Papa Bento XVI, já que, segundo o autor do
Blogo Existo, do catolicismo popular português "desapareceu qualquer traço de religiosidade genuína, para sobrar apenas a superstição", e que ninguém terá coragem para explicar isto ao sucessor do apóstolo Pedro. Mas como afere João Pinto e Castro o grau de pureza do comportamento religioso do povo católico? As crises e desafios inerentes a esta confissão religiosa, estudou-os? Ficamos sem saber. O autor apenas partilha com quem o lê a sua crença de que o catolicismo português se reduz hoje "aos terços pendurados nos retrovisores que constituem a verdadeira previdência rodoviária, às cerimónias de benção das pastas dos universitários finalistas e às faustosas festas de casamento e baptizados que sinalizam a ascensão social dos promotores" e que, por causa de um "tsunami social que o país sofreu nos últimos anos", teve "afinal razão Afonso Costa: o catolicismo que ele conheceu desapareceu para todos os efeitos práticos antes de terminado o século vinte." Neste raciocínio causal não-científico, não couberam, claro está, estatísticas sobre as práticas missalizantes de milhares de paroquianos deste país (produzidas pelo INE e tudo), ou estudos académicos sobre a sua religiosidade (de universidades não-confessionais e tudo). Não couberam, para além de "promessas, benzeduras, relíquias, esconjuros, penitências, ex-votos, terços e procissões", relatos das vivências e acções semanais, mensais, anuais, de dezenas de agremiações de católicos das mais diversas profissões, de centenas de núcleos de leigos pertencentes às Conferências de São Vicente de Paulo ou à Caritas, de milhares de jovens adultos integrados no Corpo Nacional de Escutas, só para referir uns poucos exemplos. Desde quando a realidade é tão simplesmente o que cada um de nós acha, ou deseja? As críticas ou invectivas às instituições religiosas, quando se sustentam em informação, são mais que válidas. Se me permite, João Pinto e Castro: ponha os olhos em
Fernanda Câncio, que as faz com frequência, mas nunca em negação, e sempre com o trabalho de casa em dia.
3 Comments:
Muito bem!
Ana Cláudia, Estou de acordo com o que diz sobre o Blogo Existo. Mas estava interessada em saber o que pensa sobre os aplausos ao «raspanete» do papa de que eu falei aqui. Quando escrevi a última parte, lembrei-me de uma conversa que tivemos há uns meses no RCP.
Um abraço
http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2007/11/ratzinger-e-os-bispos-portugueses.html
Joana, irei então ler o seu post, e lá deixarei o meu comentário.
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