quarta-feira, outubro 03, 2007

Lisboa vista de Roma

Foi uma sensação estranha almoçar em Roma, na Via del Governo Vechio, com dois historiadores, um canadiano de origem espanhola e outro francês filho de britânicos, e ouvir, num português com sotaque, constantes elogios a Portugal e Lisboa. Aqui ficam alguns fragmentos da conversa:
- Já deves estar com saudades de Lisboa. Eu gosto de Roma por causa dos monumentos, da História, mas não gostava de cá viver. Felizmente vou mudar-me para Lisboa em breve.
- Só quando saí de França é que percebi que os franceses têm a mania de que o café deles é magnífico, mas não vale nada. O café é horrível em França e Espanha. Só em Itália e Portugal é que vale a pena. Mesmo assim, em Portugal é mais barato. Em Roma um café na zona histórica são oitenta cêntimos e fora da zona histórica 65 cêntimos.
- E os transportes públicos de Lisboa?
- Óptimos. Muito limpos e fecham tarde.
- Em Roma há uma estação que fecha às 21 e 30. Quando me disseram pensava que estavam a gozar comigo.
- E o cinema? Farto-me de ver cinema em Lisboa. Na cinemateca e nos cinemas comerciais.
- Sim, em Londres ir ao cinema fica em 10 ou 15 libras. É proibitivo. Só uma pequena elite é que tem acesso à cultura.
- Em Portugal nota-se sempre um esforço para levar a cultura ao povo. No Reino Unido estão-se nas tintas.

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11 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Comparar a oferta cultural entre Londres e Lisboa é tão patético que até tem graça...
"Levar a cultura ao povo em Portugal" diz tudo sobre o estado da cultura e o paternalismo de quem diz isso.

8:35 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Tenho tendência a concordar no que diz respeito aos transportes públicos. Os únicos transportes públicos que conheço melhores do que os de Lisboa são os dos países germânicos (Alemanha, Áustria e Suíça). São muitíssimo mais limpos e funcionam com ótima regularidade.

Estas maravilhas todas sobre Lisboa omitem factos comezinhos: as ruas entupidas por carros estacionados em segunda fila, os passeios cobertos de merda canina, os lojistas mal educados e que parecem estar a fazer um frete em atender o cliente, etc.

Luís Lavoura

10:03 da manhã  
Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Ó Luís Lavoura, não chegou a comentar o meu comentário ao seu comentário...

11:28 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Exemplo- Hoje em Londres nas salas de cinema do British Film Institute Southbank passam 11 filmes (todos muito bons!) na cinemateca de Lisboa passam 5 (nem todos bons). e segue apenas um exemplo de salas que passam filmes independentes (entre muitas em Londres)
http://www.ica.org.uk/?lid=4187
Em Lisboa uma pessoa não se "farta de ver cinema", farta-se é de ver sempre os mesmos filmes...

12:53 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Caros comentadores,

O post começava por «Foi uma sensação estranha...». Estamos tão habituados aos clichés do «bota abaixo» em relação a Portugal e Lisboa que se torna interessante perceber o que é que os estrangeiros valorizam no nosso país. Prova disso é que este post teve bastantes comentários.
Limitei-me a reproduzir afirmações de duas pessoas bastante viajadas e cultas e não tenho que partilhar os seus pontos de vista. Não creio que faça sentido comparar a oferta cultural de Lisboa e Londres ou o património arquitectónico de Lisboa e Roma. Creio que estes meus amigos tentavam dar algumas achegas para definir o «charme» que encontram em Portugal. Também não creio que quando falavam em «chegar ao povo» tivessem em mente uma política cultural paternalista, mas a acessibilidade económica da oferta cultural. Que o cinema é bastante mais barato em Portugal do que no Reino Unido posso confirmar por outras fontes. Aliás, conheço portugueses licenciados que estão a tentar ganhar a vida em Londres e, quando partilham apartamentos com estrangeiros do mesmo nível social ficam banzados com a fixação dos outros em programas de televisão tipo «reality show» e falta de horizontes culturais além do pequeno ecrã e da música pop.
Sou bastante crítico em relação à sociedade portuguesa e tenho exprimido grande parte dessas críticas no meu blogue. Mas já estou cansado do «complexo de inferioridade sistemático» face ao estrangeiro. Lembrava aqui alguns factos: o Reino Unido tem a maior taxa de gravidez adolescente da Europa; o fenómeno de violência urbana em França, banalizando o vandalismo sobre carros, por exemplo, não tem paralelismo em Portugal; as rivalidades regionais portuguesas não têm comparação com as tensões com Nápoles, onde muita gente nem sequer fala italiano.

7:02 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Uma coisa é valorizar e utilizar o que existe de bom e funciona em Portugal, outra coisa é comparar: a oferta de filmes e o que se paga por ve-los não se compara com taxa de gravidez adolescente. Talvez se possa comparar o ordenado minimo? 437,00€ em Portugal e 1270,00 no Reino Unido. E que no Reino Unido dois em cada 100 trabalhadores o recebe enquanto em Portugal são 6 em cada 100.
Voltando ao bilhete de cinema, se na Cinemateca de Lisboa custa 3 € e no BFI 11 € (4 vezes mais, sendo o salário mais baixo 3 vezes o português), e dada a QUANTIDADE E QUALIDADE da oferta a diferença de preço não é tão grande assim.
E sabiam que o director da Cinemateca é a pessoa que à mais tempo ocupa um cargo de topo numa instituição pública em Portugal, sendo sempre reconduzido sem qualquer tipo de oposição.

9:19 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Portugal é o único país do mundo em que o cúmulo do politicamente incorrecto é elogiar alguns aspectos do próprio país.
A economia britânica funciona melhor e os salários são mais altos. Por isso mesmo se está a dar uma nova vaga de emigração em Portugal de licenciados que não encontram aqui empregos com o nível de rendimento adequado às suas expectativas.
Quando se compara Portugal com outros países muitas vezes não se tem em conta que Portugal é um país muito homogéneo em que grande parte da população se pode incluir numa classe média de contornos vagos. Noutros países as clivagens sociais e regionais são muito mais fortes. Neste blogue já tenho criticado muito o poder na Madeira, mas não o confundo com o exercício do poder na Sicília. Há uma tendência para comparar não a «média» portuguesa, mas a «moda» (indicador estatístico das situações mais frequentes) com o estilo de vida dos sectores sociais e regionais mais privilegiados de outros países.
Não excluo a hipótese de um dia sair de Portugal por razões profissionais, mas orgulho-me de pertencer a um país onde, ao contrário da Bélgica, não há publicidade a desodorizantes que «evitam o banho semanal».
Outro aspecto positivo de Portugal, que escapa aos estrangeiros, é que este é o único país do mundo com o gelado «perna de pau».

12:47 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

E a sande de coirato? Nenhum Kamone consegue pronunciar quanto mais provar! VIVA PORTUGAL!

2:13 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

O Vaticano ainda gosta menos de Portugal do que os portugueses. Rejeitar a canonização dos pastorinhos! Como é possivel. Depois de tanta aparição ainda é necessario mais provas?!

3:35 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Não sei se o Vaticano gosta menos dos portugueses do que eles mesmos. A titulação do Público de 11 de Outubro sobre o caso, na pág. 10, é no mínimo curiosa. Há dois títulos em destaque:
«É preciso uma nova cura para a canonização dos videntes de Fátima»
«ASAE no terreno»

4:47 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Qualquer comentário porreiraço sobre nós e o pessoal baba-se todo e acorre ao cérebro uma vertigem de não-sei-quê. Tende juízinho! tende juízinho! Continuemos o que estávamos a fazer.

10:23 da manhã  

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