Nietoska Nezvanovna
Era esta recordação que acabava de me impressionar. Então, como agora, ele julgava-se só quando se abeirava do espelho; agora, como então, com um sentimento desagradável, eu achava-me não muito longe de Piotre Alexandrovich. Mas ao ouvir esse canto (o que menos se esperava dele) que me feria de modo tão inesperado, fiquei pregada ao chão, e, no mesmo momento, evoquei uma cena da infância. Os nervos vibraram-me todos, e, em resposta a essa malfadada canção, soltei tal risada que o pobre cantor deu um grito, pulou para longe do espelho, e, pálido como um cadáver, sentindo-se apanhado em flagrante, olhou-me cheio de terror, de espanto e de fúria. Esse olhar agiu doentiamente em mim; repliquei com um riso nervoso, mesmo cara a cara, e, sem deixar de rir, entrei no quarto de Alexandra Mikailovna.»
Fiodor Dostoievski, Noites Brancas e outras novelas, Lisboa, Estúdios Cor, 1964, pág. 398
Etiquetas: Clássicos para o povo, Dostoievski, Nietoska Nezvanovna
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