quarta-feira, dezembro 20, 2006

Por favor, salvem-nos!

Parcialmente agoniado com os resultados de um “inquérito” ou “sondagem” europeia sobre os “valores da liberdade individual e […] direitos dos homossexuais”, Daniel Oliveira, com o olho felino de sociólogo e historiador que desde sempre o qualificam para a análise do mundo que nos rodeia, afirma que o maior cepticismo e crítica na Europa àqueles “valores” e àqueles “direitos” (em que se incluem o casamento entre homossexuais e adopção de crianças por casais homossexuais), decorre (não podemos rir) do “conservadorismo católico comunista”. Nada mais verdadeiramente verdade!
A Grécia (com uns miseráveis 15% de aprovação), como se sabe, conheceu, e ainda conhece, uma longa ditadura comunista e é, desde ontem, um dos mais importantes países católicos na Europa e no Mundo. Portugal, além de ter conhecido uma ditadura comunista de quase cinquenta anos, é um país fervorosamente católico em que, como se não bastasse o elevadíssimo número de casamentos católicos, baptizados, primeiras comunhões e comunhões solenes, para não falar nos templos cheios de gente a rezar e a ouvir missa, há cada mais jovens a querem entrar em Seminários – que estão a rebentar pelas costuras – e mulheres a lutarem, desesperadamente, por um lugar num Convento ou reprimindo quotidianamente vocações inexplicáveis. Na Itália é exactamente a mesma coisa. Mussolini foi um malvado dum comunista, as procissões sucedem-se, tal como romagens e peregrinações, já para não falar em milagres e aparições de toda a sorte que encharcam os media e as conversas quotidianas, ao ponto de Bento XVI estar a pensar revelar, para pôr cobro à alienação dos italianos e italianas, o seu ateísmo de décadas. Sobre o Chipre, Daniel Oliveira pode garantir que a paisagem é idêntica à da Grécia. E depois, claro está, há sempre esses países homogénea, fervorosa ou exclusivamente católicos e nostálgicos do Comunismo como a Hungria, a Eslovénia, a Eslováquia e os Países Bálticos. Finalmente, mas por outras razões, devemos recordar esse outro país de fortíssima tradição protestante que é a Bélgica (com honrosos 62%), e que por isso vê os seus cidadãos apoiarem casamentos entre homossexuais e adopções por homossexuais a torto e a direito. E depois, claro está, há a Espanha (com promissores 56%). Muito aberta, muito democrática, muito tolerante. Afinal, haverá maior sinal de tolerância – além de modernidade e de progresso – numa sociedade do que o apoio quase incondicional ao casamento entre homossexuais ou à adopção por estes de criancinhas? E claro, como ser racional e muito conhecedor, lá está Daniel Oliveira a garantir que a Espanha é muito católica e os espanhóis também (a sério!), o franquismo foi uma ditadura comunista, mas que, apesar disso, foi salva pelo “desenvolvimento económico” e pela “política.”
Visto isto só posso concluir que seria tão bom salvar Portugal e, com ele, salvar a tolerância com “desenvolvimento económico” e “política”. Sobretudo por que, como se sabe, a “tolerância” numa sociedade mede-se por aquilo que se pensa, diz e faz em relação – outra vez – ao casamento entre homossexuais e à adopção de criancinhas pelos ditos. Por favor, salvem-nos!

2 Comments:

Blogger Pedro Picoito disse...

Ah malandro, que me roubaste o post...

Feliz Natal!

12:29 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

"conservadorismo católico e comunista."

Não é a mesma coisa.

11:17 da tarde  

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