domingo, dezembro 03, 2006
Por mera coincidência ouvi hoje de manhã, na “Europa FM” – penso que é assim que se chama –, os quinze ou vinte minutos finais de um debate sobre o aborto e o referendo que aí vem. Daniel Oliveira lá estava. Falou, falou e ganhou. O seu interlocutor, defensor do “NÃO” – cujo nome não descortinei e a voz não reconheci –, revelou-se uma virgem em debates radiofónicos, por mais virtuosos que fossem os seus argumentos. Não chegou, portanto, para o tarimbado Daniel Oliveira. Mas já no fim da função, Daniel Oliveira não podia resistir, qual Santana Lopes, Miguel Portas ou Francisco Loução, à traquinice. Lançou-se sobre aqueles que, defendendo o NÃO com enorme radicalismo, andarão agora a louvar as benfeitorias que o planeamento familiar, a contracepção, e tudo o resto, representam como alternativa ao aborto e como argumento contra a sua liberalização. E isto seria particularmente grave (política e eticamente) por que, no passado, se opuseram com unhas e dentes à adopção destas soluções como políticas públicas. Vindo de que veio a dita observação traquina, apareceu logo diante da minha humilde pessoa, destes dois que a terra comerá um dia, toda a coerência que tem caracterizado a já larga carreira política de Daniel Oliveira. Como se sabe, e desde que nasceu, Daniel Oliveira é do Bloco de Esquerda. Por isso, quando abocanha com os seus argumentos infalíveis as malfeitorias cometidas pelo e no PCP nunca está a entrar em contradição com aquilo que pensou, disse e fez num momento da sua vida que já lá vai. Não! Nunca! Pelo menos é o que dizem lá para os lados da rua Soeiro Pereira Gomes, entalada entre a embaixada dos EUA e o Hospital de Santa Maria, lá longe no miolo da caótica capital da república Portuguesa.
Já agora, quero aproveitar para denunciar um facto curioso. Daniel Oliveira, sempre muito moderado e educado durante a parte do debate que ouvi – o que faz muito bem sempre que pode e quer – falava com sotaque e vocabulário típico dos “tios” (“Betos”? “Queques”?) de Cascais (é possível que fosse apenas a influência exercida pelo "meio" sobre um carácter que facilmente se deixa moldar). Apesar disso, ainda não o vejo com casa na Quinta da Marinha – aliás, e como tudo, nem sempre bem frequentada. Mas lá chegará. Sinceramente, faço votos e faço-me convidado para a inauguração. Mesmo que não possa, nem deva, passar da copa.
7 Comments:
14ª SESSÃO - O GRANDE ACIDENTE LUSITANO
Lançados os dados, apresentados alguns actores, - a que se vão juntar auxiliares de educação, assistentes sociais, enfermeiros, técnicos paramédicos, técnicos auxiliares sanitários, professores primários, educadores infantis, etc... etc.... lançando tudo não às feras, não, que essas também foram repescadas pelo regime, vamos a um sítio. Na História.
Na altura – estávamos em Dezembro de 1980 – tudo se explicava dentro da querra fria esquerda-direita, sem volver. O Papa do sorriso morrera estranhamente? Foram os comunistas, dizia a direita; foi a ala mais reaccionária do Vaticano, dizia a esquerda, em que se incluía o grande acidente lusitano no largo do rato, animal que vive geralmente de esgotos e/ou lixo.
Numa noite- chuvosa ou seca tanto faz – a emissão da RTP (canal que tivera um período de luxo programático com Vasco Graça Moura e um período digno da loirice de Herman José com Proença de Carvalho) dizia a emissão da RTP era interrompida lá para as horas a que hoje se interrompe a mente dos portugueses. Motivo, o Primeiro-Ministro Sá Carneiro falecera num acidente de aviação.
Foi acidente ou a estrema-direita fascista diziam uns, foram os comunistas que o mataram diziam outros. Limpou-se tudo, enterraram-se os mortos, cuidaram-se os vivos. E esta última parte é que, com a limpeza ecológica que só o tempo faz, nos conduziu a este post. Hoje, em que os mais citados suspeitos do assassinato que já não oferece dúvidas estão bem de saúde graças a Deus, na inversa proporção da dita do regime, que os dois nunca fazem paralelas senão em sentido inverso. O que significa, por outras palavras, que estão sediados nas esferas do poder, chame-se ao mesmo o que se chamar.
Feita a decapagem ideológica, fica Sá Carneiro como um homem firme nos seus princípios e objectivos, dterminado e firme na liderança. A Aliança Democrática de que foi construtor e lider estava no poder, tinha uma maioria sólida e não se lhe conheciam rupturas. Estava, pois, “condenada” a governar por muitos e longos mandatos.
Dito por outras palavras, com Sá Carneiro VIVO e à frente da AD e do Governo, jamais o PS e o rato voltariam ao poder. Que também pode significar fazer umas coisas, fazer uns jeitos ou jogar uns jogos. Certo é que, pelo menos periodicamente, aquele partido tem que ir ao poder. Conforme se verificaria, embora os Historiadores não o registem, mais duas vezes: Cavaco Silva, cuja liderança no PSD lhe daria maiorias enquanto quisesse, teve de arquitectar um tabu para abandonar o barco, sabe-se lá se com medo de passar sobre Camarate; Durão Barroso foi seduzido e, com a presidência europeia, desmoronou-se o Governo de coligação, e sólida, que teria armas para continuar na governação por mais mandatos. Apesar de, desde a sua posse, o país ser varrido por informações seguras sobre a preparação de um golpe de estado.
Não ouvi infelizmente o debate.
Mas recordo-me que, na discussão pública anterior ao primeiro referendo sobre a descriminalização da IVG, os sectores que defendiam o não tinham uma retórica que se pode resumir por "aborto não, o que importa fazer é educação sexual nas escolas, generalizar o acesso ao planeamento familiar, etc.". Ora, passado o referendo, tendo o "não" ganho, esses mesmos sectores continuaram a oferecer a mesma resistência que sempre os caracterizou à implementação das medidas que por pura conveniência "eleitoralista" apregoaram durante a campanha.
Volvidos oito anos, o "remake" é perfeito, e os defensores do não defendem novamente o que nunca defenderam excepto em vésperas de referendo.
Penso que talvez o que o Daniel Oliveira queria dizer tivesse mais a ver com esta hipocrisia de defender o "mal menor", que rapidamente se varre para baixo do tapete em caso de vitória, do que com a cristalização no tempo das posições de cada um. Mas, claro, só ele poderá esclarecer...
Não conheço as posições de todos os defensores do Não sobre o planeamento familiar - tanto hoje como há oito anos. Sei, no entanto, que muitos defendem, sinceramente, uma melhoria substancial das políticas de planeamento familiar. Por outro lado, não é pelo facto de alguns cínicos do Não andarem a dizer agora uma coisa que depois não querem que se concretize que o planeamento familiar não avança. Por isso, o argumento utilizado pelo Daniel Oliveira pareceu-me uma traquinice pouco séria embora de um tipo muito usado por toda a gente em debates - tanto sobre o aborto como sobre outros temas.
A questão não é mudar de posição. Mudei várias vezes na vida e mudarei outras tantas. É ter uma antes de uma campanha. Fingir que se tem outra na campanha. Deixar de a ter depois do referendo e voltar a te-la na campanha seguinte. Aceito todas as incoerências. Tenho mais dificuldade com o oportunismo político.
Quanto a ser facilmente moldavel, ora aí está uma coisa que nunca me tinham dito. Quando inaugurar a minha casa - que será bem mais longe que a Quinta da Marinha - está convidado para a inauguração.
Ufa...! Depois de tantos posts com laivos monárquicos estava descrente de que este fosse candidato ao melhor blogue de esquerda. :)
Caro Daniel. Obrigado pela atenção. Mas não irei. Seria uma grande má educação da minha parte andar a fazer-me ao convite para uma inauguração, mesmo não sabendo ir acontecer. De qualquer modo, que tudo corra pelo melhor na nova morada.
SIM À LEI DO ABORTO!
Com a Lei do Aborto em vigor a taxa de criminalidade irá descer, porque as pretas farão bicha à porta dos hospitais.
www.riapa.pt.to
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