Sob o signo da Carta Reformada...
Nas décadas de 1920 e 1930, na chamada era dos totalitarismos, Portugal seria uma boa excepção democrática e liberal como sucedia com as monarquias escandinavas – e como o salazarismo foi uma de duas excepções autoritárias na Europa Ocidental entre 1946 e 1975.
Depois, a bondade das instituições democráticas e o equilíbrio social português – com a boa ajuda dada pela igreja católica e por um ministro das Finanças da direita moderada e tecnocrática chamado Armindo Monteiro – permitiria que Portugal tivesse um papel importante na na Guerra Civil espanhola, conseguindo impor moderação e compaixão aos vencedores nacionalistas. No país vizinho, a Monarquia seria restaurada e, após um transitório período de autoritarismo, idêntico ao da ditadura de Primo de Rivera, a democracia seria, também ela, restaurada (lá por 1942 ou 1943). Entretanto, ainda na década de 1930, um comunista tresloucado, mas às ordens dos seus camaradas espanhóis, assassinaria o extremamente popular e cordato general Carmona, CEMGFA e par do reino. O PCP condenaria o acto e Cunhal seria o representante dos jovens comunistas nas cerimónias fúnebres. A partir deste evento nunca mais seria o mesmo. Passaria a ouvir e a seguir os conselhos de sua mãe.
Apesar do crime, as instituições manter-se-iam firmes, com a tropa nos quartéis e Afonso Costa, finalmente, reconhecendo a bondade da monarquia e da Santa Madre Igreja.
Depois da guerra, já bem entrada a década de 1950, Portugal iniciava o processo descolonizador (o Estado português da Índia, após referendo cuja legitimidade o Governo indiano tardara em reconhecer mas a ONU, o RU e os EUA ratificaram, permanecia sob soberania portuguesa). Os principais críticos da descolonização eram os velhos e os novos republicanos – agora mais radicais do que nunca - que acusavam a Monarquia, tal como em 1890, de transigir com aqueles que, no estrangeiro, queriam despojar Portugal de um império que revelava aquilo que de melhor havia na sua gesta histórica. A este grupo pertencia Mário Soares, defensor a outrance da preservação do império. Chegou a participar, com o major Henrique Galvão – um nacionalista asqueroso, velho admirador de Mussolini e de Hitler –, numa manifestação realizada na jacobina Paris. Um protesto organizado contra a visita realizada por Marcelo Caetano, ministro dos Negócios Estrangeiros, àquela cidade e contra a "desgraçada descolonização" portuguesa. Nesta manifestação, e segundo fontes fidedignas, terá sido queimada a bandeira portuguesa azul e branca. Realizada com o apoio dos Serviços Secretos francês, lá esteve Le Pen - recém chegado da Argélia, onde fora ferido em combate. Marcelo Caetano, monárquico dos quatro costados e profundo conhecedor das questões africanas e de política internacional, fora à capital de França para tentar mediar negociações que pudessem conduzir ao início da descolonização do império francês. Encontrou-se com de Gaulle e Miterrand. O seu esforço só seria recompensado por meados da década de 1970 quando, já na reforma, seria nomeado representante especial da ONU para a descolonização da francofonia.
Portugal pôde ainda ser membro fundador da CEE e da NATO, tendo a sua diplomacia sido decisiva para a entrada do Reino Unido no Mercado Comum em 1962 (ano em que a França a abandonou para não ser expulsa, já que continuava a recusar o início de negociações que tivessem em vista a independência da Argélia e do seu restante império colonial já muito amputado).
Ah! Mário Soares, que nem o curso de histórico-filosóficas concluiu, acabou, em finais da década de 1960, deputado de um partido extremista chamado Bloco para a República (ou o “republicanismo-caviar”, segundo os seus adversários mais bem humorados).
Por esta altura, no início da década de 1970, Álvaro Cunhal, jovem comunista na década de 1930, seria o primeiro-ministro português anfitrião de uma cimeira realizada em Sintra, no Palácio da Pena, na qual se reuniram os dois líderes da URSS e dos EUA. Como resultado deste extraordinário evento iniciar-se-ia o processo que pôs fim à Guerra Fria. Cunhal, feito marquês de Marvila pelo neto de D. Carlos, D. Pedro VI, seria nomeado prémio Nobel da Paz.
7 Comments:
Só não gosto dessa do meu Sporting não passar de um clube de bairro. Mas bem vistas as coisas, não era mau negócio: "pela Pátria" ficava já com esta história.
estou a chorar de orgulho do nosso possivel Portugal... estou todo arrepiado
Pronto, primeiro prémio de "revisionismo histórico" para o Fernando Martins! Delirante meu caro e, embora também não goste de ver o benfica como clube de bairro, terei de compreender. Ficam apenas umas perguntas: que aconteceria com a Académica?, e com o Manoel de Oliveira?, sem Magriços teríamos tido o Figo?, e sem Figo teríamos tido Manuel Alegre? Por fim: o Fernando Pessoa?, teria sido o nosso primeiro Nobel da Literatura?
PS - ach que Portugal não seria o "Tigre da Europa", mas antes o "Lince da Europa", seria mais patriótico...
Que História alternativa tão mázinha para Afonso Costa, Álvaro Cunhal e Mário Soares...As aparições que Fátima são uma lacuna na minha História alternativa que agora tento preencher. O Rei decidira a entrada de Portugal na Grande Guerra e a mensagem de Paz de Fátima era considerada subversiva pela Coroa. A Hierarquia nacional e as élites nacionais distanciar-se-iam das aparições. Em Roma, Bento XV, que era um crítico do conflito, encararia as aparições com simpatia, mas remetia-se a um prudente silêncio para não dividir os católicos portugueses e entrar em confronto com o Rei. Já os comunistas, que estavam contra a participação portuguesa na Grande Guerra, veriam na Virgem uma aliada inesperada. Elaborariam a «política de mão estendida à Virgem» e distribuiriam panfletos com os títulos «A Virgem está com o Povo e o Povo com a Revolução».
O futebol é outra lacuna. Não sou do Belenenses, mas na minha História alternativa ganhava umas taças.
João Miguel, a tua devoção pelo comunismo - o bom, claro - fez-te cometer uma gafe. Só em 1921, salvo erro, deram pela primeira vez um ar da sua graça. Ainda estariam a tempo de aproveitar o efeito Fátima? Mas vou pensar na tua proposta, até porque quanto ao resto parece interessante. Quanto aos destinos de MS, AC e MS parecem-me bem, embora passível de melhorias. O pior seria para a avó Amaral Dias.
Caro Fernando, o republicanismo radical já existia - veja-se a Carbonária. Kropotkine e Karl Marx já cá tinham chegado e Afonso Costa até escrevera uma tese académica sobre o último. Aliás, afirmava-se «marxista», embora neste caso a tese pouco tenha a ver com a prática. Se juntarmos as referências teóricas com a militância anti-guerra, o movimento sindical na realidade reprimido por Afonso Costa ou Sidónio Pais e o exemplo da Revolução de Outubro a minha História alternativa ganha consistência. Não tendo à mão um livro para confirmar datas, parece-me que o marxismo-leninismo é de facto tardio em Portugal, mas subestimas a influência do anarco-sindicalismo no início do século XX na Península Ibérica. Eu inventei um movimento revolucionário inspirado por Lenine, não um partido marxista-leninista em finais de 1917, princípios de 1918, numa altura em que não se podia saber ao certo o que era o leninismo.
Quanto ao «bom comunismo», a única vaga ideia do que podia ser tive-a ao ler «Homenagem ao Povo da Catalunha» de George Orwell.
Caríssimo, se não estavas a falar de marxismo-leninismo, ok. Quanto ao bom comunismo da homenagem à Catalunha, não sei o que te diga. Não fosse a subjectiva intermediação de Orweel, já para não falar na sua estrondosa às mãos de russos e seus lacaios, acho que apenas nos teria deixado miséria e violência. Penso que concordarás comigo. Se Trotsky foi aquilo que foi durante a Revolução Bolchevique, a guerra civil e a NEP, duvido que o trotskismo no poder fosse melhor. Não te esquecerás certamente que o velho Leão era bem radical, bem revolucionário e bem comunista. Teve a sorte, do ponto de vista do juízo da história, de ter sido vítima de Estaline. Exilado, perseguido e depois assassinado.
Enviar um comentário
<< Home