É assim que eu vejo Marcello Caetano.
Infelizmente, e com excepção do depoimento de Adriano Moreira – e, em parte, do de Jorge Sampaio –, o destacável do Diário de Notícias é de uma pobreza confrangedora. Graficamente é uma confusão e os textos de Fernando Madaíl e Armando Rafael têm demasiados erros para o meu gosto – os mais gritantes são aqueles que parecem garantir que António Sardinha não terá morrido e sido enterrado em Janeiro de 1925 mas depois, que Marcelo Caetano teria 26 anos quando, em 1929 [sic.], Theotónio Pereira o apresentou a Salazar, que em 1944 Armindo Monteiro podia ter regressado ao Governo, ou que a guerra em Angola foi precedida no seu início (Fevereiro-Março de 1961) pela ocupação do chamado Estado Português da Índia por tropas da União Indiana (em Dezembro de 1961).
Quando vejo estas coisas em que se tratam temas de que tenho por defeito profissional obrigação de saber alguma coisa, imagino sempre os disparates que todos os dias leio, vejo ou ouço – sem me dar conta – sobre aquilo de que pouco ou nada sei. A sociedade de informação em que vivemos é assim.
De qualquer modo, e ao menos no Diário de Notícias, embora tom dos “comentadores” não seja esse, perpassa a imagem do Marcello Caetano académico brilhante e político com boas intenções, como se fosse possível compreender e útil julgar um político sob tal prisma. Tanto quanto sei foi Vasco Pulido Valente vquem ulgarizou esta interpretação num ensaio publicado na KAPA já lá vai bem mais do que uma década, e continua a fazê-lo, com outras personagens, ao publicar um pobre – historiograficamente – ensaio biográfico sobre Paiva Couceiro. Não me parece que seja através da suas intenções a melhor forma de conhecer quem quer que seja, e muito menos Marcello Caetano. Líder político de um regime autoritário com quase quarenta anos quando chegou ao seu topo, Marcello Caetano terá então pensado ser possível reformá-lo e, depois, talvez democratizá-lo. Tinha intenção de descolonizar bem, de criar um verdadeiro Estado social, de atrair para o regime aqueles que fora dele ou nas suas franjas seriam aproveitáveis. Enganou-se redondamente por ter sido sempre um político tão incompetente como ambicioso. Aos vinte e quatro, vinte cinco anos, por se considerar um ás no direito, achava-se, no fundo, fadado para, num curto espaço de tempo, ser reconhecido por Salazar como seu sucessor. Convencera-se de que um bom técnico podia ser, ao menos no seu caso, um político de excepção.
4 Comments:
Ponto de vista interessante, embora a minha opinião esteja mais influenciada pelo texto de VPV. Concordo com o que dizes da biografia de Paiva Couceiro, fraca e tendendo a agigantar uma fraca figura...
Muito bom post.
CL
Boa Fernando!
Obrigado pelos elogios. Se me permitem, faço-o especialmente ao Luís Nuno.
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