quarta-feira, junho 07, 2006

Bush e o Irão: o apaziguador de ditadores volta a atacar!


Parece que George Bush junior lá resolveu crescer e aparecer dando ouvidos à razão, e tentando negociar com o Irão. Coloca assim em maus lençóis os seus defensores que argumentavam que era impensável lidar com um regime como o de Teerão, era como tratar com Hitler e o nazismo, era voltar a Munique e ao holocausto! (Ou, suponho, à Líbia de Khadaffi.)

Pode ser que assim o preço do petróleo demore mais uns anos a tornar-se incomportável. Talvez até desça para níveis aceitáveis. (Mas duvido, a pressão da procura é enorme e a oferta é pouco elástica; mas a esperança é a última a morrer.)

Há que reconhecer que ter Bush na Casa Branca tem uma grande vantagem. (Parece incrível mas é verdade). Ele torna credível a ameaça contra o Irão, por muito insensato que um ataque possa parecer. (Foi isso mesmo que numa visita recente ao Irão o meu amigo Mike Levi tentou explicar aos iranianos: nem em Washington o que ele vai fazer!)
Agora, ao pau da ameaça militar, Washington acrescentou algo parecido a uma cenoura. (É normal que os EUA insistam em garantias antes de oferecer mais.) Se Teerão recusasse a abertura americana, a possibilidade de uma acção conjunta - desde logo em termos de sanções económicas e outros - das grandes potências contra o Irão tornar-se-ia mais plausível. Se fosse Washington a ignorar completamente os gestos iranianos recentes no sentido de estabelecer contactos ela seria dificultada. É que a única forma realista de tentar conter a proliferação nuclear é multilateralmente.
Infelizmente, ser a única forma realista de o fazer, não quer ainda assim dizer que seja fácil. Estamos perante um clássico dilema de (in)segurança em que as partes tendem a ameaçar-se e recear-se em espiral. Estamos perante uma típica situação de coerção estratégica, em que o nível certo de ameaça e incentivo, e a questão essencial da sua credibilidade estão entregues às incertezas inevitáveis num processo de comunicação entre inimigos. Mas ao menos parece que os EUA estão a ter diplomacia outra vez!

2 Comments:

Blogger Fernando Martins disse...

O maior elogio do Bruno às virtudes diplomacia da Administração Bush nos últimos seis anos (ou como se não estivesse George W. Bush na Casa Branca e o Iraque não tivesse sido invadido, e bem, o Irão não teria cedido - se é que cedeu!)
E já agora, Bruno, menos dogmatismo doutrinário. Em política externa, e não só, há vida, e muita, para lá do realismo!

11:09 da manhã  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Caro Fernando

Dogmatismo doutrinário? Deves estara falar do Bush não de mim. Aliás se fosse dogmático na crítica à política tão frequentemente incompetente da Administração Bush, não teria reconhecido os ocasionais sinais de luz ao fundo de túnel. (Na Líbia, em certas decisões no Iraque, ou aqui.)

Aliás, nem sequer sou um realista em RI. (Sou a favor de mid-range theories. Mas se sou alguma coisa, sou um constructivista. A corrente que promete conquistar o mundo na próxima década).

O termo realista é usado aqui de forma deliberadamente ambígua. Bush não tem uma política realista no sentido comum do termo - ou como dizia um apaniguado dele, nós não aceitamos o mundo como ele é, fazemos um novo! (Ah! os admiráveis mundos novos!) E também não tem uma política realista no sentido das RI e da tradição de Realpolitik: não tem uma estratégia em que se ponderem meios e fins (veja-se o Iraque).

Quanto a essa do Irão ter cedido por causado Iraque, Fernando, só por piada! O Iraque?! O Iraque foi o país que os EUA invadiram para os aliados políticos do Irão governarem! O Iraque é o país onde se viu o que acontece ao exército americano numa guerra de guerrilha - aquilo para que os Guardas Revolucionários iranianos se treinam há décadas. O Iraque torna qualquer ataque ao Irão particularmente difícil, porque Teerão pode usar os seus aliados para atacar as tropas norte-americanas e mergulhar o país numa guerra civil a sério. (Como dizia Moqtada as-Sadr a propósito das ameaças americanas ao Irão: saberemos defender o Islão!)

Ameaças credíveis é algo que o Irão pode fazer em abundância, graças ao Iraque, e que os EUA não conseguem fazer, por causa do Iraque.

Desculpa a falta de diplomacia, mas sei que tu aprecias o estilo straight shooting!

12:08 da tarde  

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