Infiltrado
Spike Lee é o verdadeiro «infiltrado» neste filme de entretenimento que visa as cumplicidades entre o poder do Estado e o mundo financeiro. O racismo é outro dos alvos, sendo filmado por alguém que já não se pode ver apenas como um porta-voz da comunidade afro-americana, antes assume a sua condição de realizador do mundo e cidadão de Nova Iorque. Em tempos de dominação neo-conservadora nos Estados Unidos, Spike Lee atira-se ao género mais conservador de um ponto de vista ideológico: o policial. A suprema ironia é que não tenta negar a divisão entre «bons» e «maus» ou a satisfação das necessidades morais do leitor com a afirmação de uma «justiça poética» no final. Todos estes requisitos se cumprem mas, exactamente, por isso, subvertem a convencional relação detective-gangster; fazem dos negros agentes da ordem e transformam as sexy women, que nos filmes clássicos só poderiam ser mulheres fatais, em cúmplices de prazer.
1 Comments:
Não consegui levar a minha reflexão "filosófica" sobre o filme mais longe do que o adágio "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão". Mais a sério: trata-se de uma revisitação interessante do conceito de "crime perfeito". Tecnicamente, a saída dos assaltantes com os sequestrados é tecnicamente perfeita; tal como a escolha do alvo ter recaído sobre um banqueiro moralmente impossibilitado de denunciar o roubo, o que o tornou (ao roubo) um pequeno golpe de génio...
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