Como tudo, a liberdade tem um preço. (Não há almoços de graça. Lembram-se?). Mas mesmo quando o preço de ser livre é muito alto, é dífil dizer que não valeu a pena. Até porque também a servidão se paga. Todas as revoluções, democráticas ou não, têm custos económicos e humanos, muitas vezes catastróficos: destruições terríveis, centenas de milhar ou até milhões de mortos. Tendo em conta o custo normal das revoluções o 25 de Abril teve um custo muito baixo e um lucro enorme: paz, liberdade e desenvolvimento mais equitativo.
A crise económica? As guerras coloniais? Já existiam em 1973 e foram em boa parte a causa da revolução. Havia quem fizesse melhor? Quem? Sá Carneiro e Spínola já tinham desistido da ideia de mudar o regime por dentro, por alguma razão seria.
Portugal não é o paraíso. (Quem souber a morada, diga). Mas é certamente um país mais livre, mais justo, mais rico do que em 24 de Abril de 1974.
O lado mais ficcional desta críticas talvez seja a ideia de que o 25 de Abril trouxe a crise económica, como se ela não estivesse já instalada desde o ano anterior, acabando de deslegitimar a ditadura com a taxa de inflação mais elevada da Europa em 1973.
Suponho que a direita com reservas abrilinas seja contra as celebrações do 4 de Julho nos EUA porque deram origem a uma terrível crise económica, a uma sangrenta guerra civil e forçaram centenas de milhares de americanos leais à Coroa Britânica a emigar para o Canadá. Suponho, como é evidente, que estejam completamente contra a invasão do Iraque, os muitos milhares de mortos desde que a "guerra" terminou, a terrível crise económica (desemprego de 50%), e o "democratas" que tomaram o poder e se instalaram no governo por lá.
A ideia de Spínola como o único democrata do 25 de Abril não faz sentido. (Por muito que também recuse a caricatura inversa, de um ditador à espreita de uma oportunidade). Ele não se demitiu pela resistência ao seu desejo de democracia. Mas pela oposição à sua política colonial tragicamente suicida, de tal forma que nenhum partido - incluindo o PSD e o CDS - estava disposto a apoiá-la. E foi a forma como Spínola se deixou provocar a fazer um precipitado golpe militar, em 11 de Março de 1975, que colocou todos os moderados na defensiva, e levou a que o plano Melo Antunes de estatização muito parcial, aprovado em Fevereiro de 1975, tivesse sido mandado às urtigas.
O 25 de Abril marcou o fim da ditadura, o princípio de uma rápida e bem sucedida democratização, e uma viragem à esquerda? Sim. A direita tem dificuldade em festejá-lo por causa desta última razão? Percebo, desde que não procure justificar-se negando as evidências. Mas seria realmente supreendente que a resposta revolucionário a uma ditadura de direita de 48 anos fosse uma viragem... à direita, ou não?
5 Comments:
25 de Abril
O dia em que Portugal se libertou da ditadura, pôde respirar em liberdade e começou a libertar-se da eterna pobreza. A revolução que nos libertou duma ideologia paternalista de pais-nossos e fadinhos. Uma explosão de alegria no cinzento da História.
ou
O dia em que Portugal interrompeu uma década de crescimento económico e se lançou no turbilhão duma revolução que destruiu a economia nacional. A época que nos deixou reféns duma cultura de esquerda. Uma bebedeira de loucos que minou o país.
[bicionario.blogspot.com]
Caro Marco
A Revolução não interrompeu uma década de crescimento económico, a crise económica estava instalada desde o ano anterior. Mas mesmo que tivesse interrompido, e depois? A Guerra da Independência dos EUA também afectou ou crescimento económico, idem a invasão do Iraque. E "uma cultura de esquerda" vale bem uma ditadura de direita.
Bom postal!
Esquerda, direita...! Meu Deus, como até as melhores inteligências se refugiam nesta dicotomia sem sentido!
Somos um país mais rico que a 25 de Abril de 74!Pudera eu estou mais velho 32 anos.O que se pretende dizer, explicar, justificar com uma frase destas?Paroles, paroles...p´ra encher e distrair. O contrário é que seria de espantar ... estivemos nessa via, a cubana,mas ... alguns poucos ainda foram a tempo de tentar refrear os ânimos da malta.A populaça essa, se pudesse, continuaria a festejar o carnaval.
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