quarta-feira, abril 26, 2006

25 de Abril


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia

O fim de uma ditadura é sempre de festejar. (Que é como quem diz: 25 de Abril Sempre!). A Revolução Portuguesa foi pioneira do que Samuel Huntington chamou a Terceira Vaga de Democratizações, que terminou com as grandes grandes revoluções democráticas do Leste europeu. (Uma ideia, no mínimo interessante, vinda de um famoso académico americano, alheio às controvérsias portuguesas, e de direita).
Como tudo, a liberdade tem um preço. (Não há almoços de graça. Lembram-se?). Mas mesmo quando o preço de ser livre é muito alto, é dífil dizer que não valeu a pena. Até porque também a servidão se paga. Todas as revoluções, democráticas ou não, têm custos económicos e humanos, muitas vezes catastróficos: destruições terríveis, centenas de milhar ou até milhões de mortos. Tendo em conta o custo normal das revoluções o 25 de Abril teve um custo muito baixo e um lucro enorme: paz, liberdade e desenvolvimento mais equitativo.
A crise económica? As guerras coloniais? Já existiam em 1973 e foram em boa parte a causa da revolução. Havia quem fizesse melhor? Quem? Sá Carneiro e Spínola já tinham desistido da ideia de mudar o regime por dentro, por alguma razão seria.
Portugal não é o paraíso. (Quem souber a morada, diga). Mas é certamente um país mais livre, mais justo, mais rico do que em 24 de Abril de 1974.
ADENDA - O Rui A. é capaz de ter dificuldade em encontrar um país em que a liberdade se fez num dia. Mas pode tentar. Há muita direita portuguesa (não toda, claro) que continuar a insistir em discutir a revolução e a democratização portuguesa ignorando o que é que esse tipo de processos normalmente implica na história mundial. Houve alguma revolução ou transição para a democracia sem conflitos?
O lado mais ficcional desta críticas talvez seja a ideia de que o 25 de Abril trouxe a crise económica, como se ela não estivesse já instalada desde o ano anterior, acabando de deslegitimar a ditadura com a taxa de inflação mais elevada da Europa em 1973.
Suponho que a direita com reservas abrilinas seja contra as celebrações do 4 de Julho nos EUA porque deram origem a uma terrível crise económica, a uma sangrenta guerra civil e forçaram centenas de milhares de americanos leais à Coroa Britânica a emigar para o Canadá. Suponho, como é evidente, que estejam completamente contra a invasão do Iraque, os muitos milhares de mortos desde que a "guerra" terminou, a terrível crise económica (desemprego de 50%), e o "democratas" que tomaram o poder e se instalaram no governo por lá.
A ideia de Spínola como o único democrata do 25 de Abril não faz sentido. (Por muito que também recuse a caricatura inversa, de um ditador à espreita de uma oportunidade). Ele não se demitiu pela resistência ao seu desejo de democracia. Mas pela oposição à sua política colonial tragicamente suicida, de tal forma que nenhum partido - incluindo o PSD e o CDS - estava disposto a apoiá-la. E foi a forma como Spínola se deixou provocar a fazer um precipitado golpe militar, em 11 de Março de 1975, que colocou todos os moderados na defensiva, e levou a que o plano Melo Antunes de estatização muito parcial, aprovado em Fevereiro de 1975, tivesse sido mandado às urtigas.
O 25 de Abril marcou o fim da ditadura, o princípio de uma rápida e bem sucedida democratização, e uma viragem à esquerda? Sim. A direita tem dificuldade em festejá-lo por causa desta última razão? Percebo, desde que não procure justificar-se negando as evidências. Mas seria realmente supreendente que a resposta revolucionário a uma ditadura de direita de 48 anos fosse uma viragem... à direita, ou não?

5 Comments:

Blogger Unknown disse...

25 de Abril
O dia em que Portugal se libertou da ditadura, pôde respirar em liberdade e começou a libertar-se da eterna pobreza. A revolução que nos libertou duma ideologia paternalista de pais-nossos e fadinhos. Uma explosão de alegria no cinzento da História.

ou

O dia em que Portugal interrompeu uma década de crescimento económico e se lançou no turbilhão duma revolução que destruiu a economia nacional. A época que nos deixou reféns duma cultura de esquerda. Uma bebedeira de loucos que minou o país.

[bicionario.blogspot.com]

1:11 da manhã  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Caro Marco
A Revolução não interrompeu uma década de crescimento económico, a crise económica estava instalada desde o ano anterior. Mas mesmo que tivesse interrompido, e depois? A Guerra da Independência dos EUA também afectou ou crescimento económico, idem a invasão do Iraque. E "uma cultura de esquerda" vale bem uma ditadura de direita.

9:26 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Bom postal!

10:18 da manhã  
Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Esquerda, direita...! Meu Deus, como até as melhores inteligências se refugiam nesta dicotomia sem sentido!

10:54 da manhã  
Blogger David R. Oliveira disse...

Somos um país mais rico que a 25 de Abril de 74!Pudera eu estou mais velho 32 anos.O que se pretende dizer, explicar, justificar com uma frase destas?Paroles, paroles...p´ra encher e distrair. O contrário é que seria de espantar ... estivemos nessa via, a cubana,mas ... alguns poucos ainda foram a tempo de tentar refrear os ânimos da malta.A populaça essa, se pudesse, continuaria a festejar o carnaval.

11:56 da manhã  

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